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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Obra decide eleição de véspera em cidade do Piauí

TERESINA, 1o (Reuters) - Os 2.432 eleitores de Vila Nova só têm uma opção de voto para eleger seus representantes na eleição de domingo nesta cidade do semi-árido do Piauí. Um acordo entre lideranças políticas da cidade gerou uma chapa única, com um candidato a prefeito, outro para vice e nove para vereador, o número exato de cargos em disputa.
"Eu nunca tinha visto algo parecido", afirmou o cientista político Cleber de Deus, salientando que é mais um caso inédito para a política piauiense. "Inédito e ruim", acrescentou.
O fato inusitado e típico do clientelismo político se deve à construção de uma barragem na cidade, que uniu os sete partidos com representação local. Antes da chapa única, eram dois candidatos a prefeito e 23 a vereador.
De acordo com o vereador Reinaldo Jovelino (PMDB), que lançou candidatura para prefeito, mas a retirou para apoiar o candidato oficial, a chapa é para o bem do povo.
"Esse acordo visa a barragem que o deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI) conseguiu para nossa cidade. São mais de R$ 4 milhões para a construção da obra, que era aguardada há anos pela população", disse ele, explicando que o objetivo da aliança é evitar disputas que possam prejudicar a obra.
Embora seja do mesmo partido do deputado federal, Marcelo não tinha seu apoio direto. O candidato preferido e que se confirmou como único postulante à prefeitura é José Naves Rocha (PSB).
Uma vantagem, segundo os candidatos e líderes dos partidos, é o fato de terem gastos reduzidos com campanha eleitoral - a cidade não tem horário político e são poucos os candidatos que gastaram algo com publicidade. Afinal, como estão todos eleitos, não é preciso despender grandes valores na campanha. O candidato a prefeito, por exemplo, gastou 8 mil reais, menos de 11 por cento do seu patrimônio declarado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Já os candidatos a vereador quase não gastaram nada. A soma dos investimentos dos nove vereadores não chega a 15 mil reais, o que pode ser verificado nas ruas da cidade. Não existem cavaletes, bandeiras ou santinhos de candidatos espalhados. "Até parece que não vai ter eleição", disse o agricultor Antônio Rodrigues, 33 anos.
AFRONTA À DEMOCRACIA
Mas, o acordo político em Vila Nova divide opiniões. A advogada Margareth Coelho, especialista em direito eleitoral, esclarece que o voto é o exercício pleno de cidadania.
"No Brasil, cidadão é aquele que vota, e votar é escolha. Então, quando você é tolhido nesse direito é como tivesse sendo proibido de exercer a sua cidadania", afirmou, manifestando-se contrária à candidatura única.
"Eleição é certame, tem que ter escolha. E o que está acontecendo em Vila Nova é um desrespeito à democracia", acrescentou.
Um dos pontos discutidos é com relação ao afastamento ou morte de um dos vereadores, já que não existem suplentes. "Caso o vereador tenha o diploma cassado, seja afastado ou até morra, a vaga fica aberta e uma nova eleição é realizada", informou a assessoria de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.
Vila Nova do Piauí fica a 364 km de Teresina, capital do Estado. Tem uma população de 3.030 habitantes, conforme o último censo do IBGE, e produto interno bruto (PIB) de 7.549 milhões de reais. A economia do município é estritamente agrícola com produção de mudas e castanhas de caju. Não existem empresas na cidade, apenas algum comércio. O maior empregador é o serviço público. O Fundo de Participação Municipal (FPM) não ultrapassa os R$ 2,7 milhões mensais.

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