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domingo, 1 de agosto de 2021

RUA DO SOL OU RUA DEMERVAL LOBÃO VERAS?

"velhos tempos, belos dias...”

 Por Janete Freitas


Quando cheguei à RUA DO SOL, em Teresina-PI, eu tinha apenas 05 anos de idade. Ela se chamava RUA DEMERVAL LOBÃO VERAS; não havia calçamento e, muito menos, asfalto, mas era cheia de árvores (pés-de-figueira, de amêndoas e de algaroba).

Era uma ruazinha tranqüila, pacata e acolhedora, onde passava o padeiro (com pães quentinhos), o leiteiro (com o leite puro da vaca), o mascate (vendendo linha/agulha/dedal/alfinete/botão/ colchete/ pressão etc), o pipoqueiro, o vendedor de alfinim, de pirulito, de quebra-queixo, de algodão doce e o famoso “Sexta-feira” (um pedinte de terno velho que só passava às sextas-feiras).

Os animais simbolizavam a criação de Deus e contavam com o cuidado e a proteção dos moradores da rua. Além disso, eles tinham uma enorme caixinha de areia natural para fazer suas necessidades, o capim fresco e macio dos “terreiros” das casas para deitar e rolar e a sombra das árvores para se abrigar.

As casas eram simples; a maioria, de taipa, sem muros e, algumas, possuíam cerca de arame farpado.

Havia união e confiança entre os moradores que, na verdade, formavam uma grande família.

As crianças podiam brincar  tranqüilas (de pega-pega, de esconde-esconde, de roda, de boca-de-forno, de estátua etc.), jogar bola, peteca, triângulo, pular corda, elástico e “cancão” (amarelinha).

A brincadeira preferida (para as meninas), aos domingos, era “fazer comidinha”.

Além disso, a criançada costumava fazer “dramas”, espetáculos teatrais cantados, cujas apresentações eram feitas em palcos improvisados (de tábuas velhas) no quintal de alguma casa, com figurinos feitos de papel de seda ou crepom e com venda antecipada de ingressos.

Os jovens (rapazes e moças) costumavam, à noite, amarrar um cordão nas árvores (de um lado a outro da rua) para jogar volleyball ou sentarem-se, em roda, na porta de casa para contar histórias, piadas, tocar violão e cantar.

No mês de junho, cada morador fazia sua fogueira e, sob os dizeres de que “São João disse e São Pedro confirmou”, amigas (os) tornavam-se parentes (passando fogueira), como eu e a prima (Rosa).

A animação ficava por conta do querido “Véi” (Valdemar Filho), que se encarregava de organizar nossa quadrilha, interditar e decorar a rua, selecionar as músicas, providenciar o som e convidar quadrilhas de bairros vizinhos para nossa grande confraternização junina, regada com “chá-de-burro” (mungunzá), bolo de milho, manuê, pamonha, canjica, pipoca e muita alegria.

Além das festas juninas, o “Véi” costumava realizar bingos dançantes na casa de seus pais (saudosos Dona Totônia e Seu Valdemar), onde os jovens podiam paquerar e dançar de rosto colado ao som de grandes clássicos da música romântica.

O lado espiritual da nossa comunidade não ficava esquecido, pois além das novenas e dos terços nas casas, a saudosa Dona Maria Bajur, que era evangélica, realizava cultos ao ar livre, no terreiro da sua casa para pregar a palavra de Deus, cantar hinos de louvor e oferecer-nos uma deliciosa “merenda” (lanche).

A televisão só chegou por aqui em 1970, na casa do saudoso Seu Antônio Moura ou Antônio Grande (meu Pai) que comprou um televisor TELEFUNKEN (preto e branco) para que pudéssemos, todos juntos, assistir à Copa do Mundo de 1970, no México. Para isso, ele colocava o aparelho na janela da nossa casa, os vizinhos vinham trazendo suas cadeiras e a criançada se encarregava de fazer as bandeirinhas do Brasil para comemorar os gols e a vitória da seleção brasileira, em cada jogo, ao som da famosa marchinha “Pra Frente Brasil”, composta por Raul de Souza e Miguel Gustavo.

Na década de 80, passamos a ter uma deliciosa ceia natalina, oferecida a todos os moradores, na casa do Seu Dito e da Dona Jesus.

Não existia, computador, celular, internet nem redes sociais. Nosso contato era presencial, harmonioso e cheio de afeto.

Não nos faltava divertimento, pois, alternadamente, contávamos com os tradicionais festejos das Igrejas São Raimundo (Piçarra) e do Cristo Rei, além dos famosos jogos interescolares e das festas juninas realizadas no Colégio Estadual Álvaro Ferreira.

Além disso, periodicamente, podíamos passear no “Parque de Diversões Santa Rita” e darmos boas gargalhadas no circo “São Francisco” que se instalavam num terreno vazio que ficava localizado na Rua Abdias Neves com Av. Odilon Araújo.

Posteriormente, tivemos o privilégio de ter nossas noites de final de semana embaladas por sucessos musicais inesquecíveis, selecionados pelo eterno DJ MAURÍZIO ROGER da famosa “TOP SOM” que, depois, se transformou na “BOATE AQUARIUS”.

Tempos idos que foram eternizados na minha memória. Sou grata a Deus por ter vivido, aproveitado cada momento e, agora, poder compartilhar esse registro com você. Se, por um instante, eu pudesse voltar o tempo, gostaria de reviver tudo isso novamente.

Como já disse Roberto Carlos, “Eu me lembro com saudade o tempo que passou. O tempo passa tão depressa, mas em mim deixou jovens tardes de domingo tantas alegrias, velhos tempos, belos dias...”