Milhares de crianças ainda passam fome,
mas felizmente há muitas outras que superaram esse drama.
Era uma vez uma menina que não tinha o que comer.
“Não tem comida todo dia na minha casa. Eu fico chateada, choro, vou em todo canto, mas não tem”, conta a menina. Maria Luzia tem 8 anos, mas parece menor; é sinal da fome que persegue a menina desde que ela nasceu. Por causa da falta de comida, ela come barro quando está com fome.
“É duro a gente ouvir um filho dizer que quer comer e não ter o que dar. Quando eu vejo que não tem, eu já saio à noite para conseguir comida para a manhã”, diz a mãe de Maria Luzia, Claudenice da Silva.
Milhões de pessoas sofrem com a fome no nosso país, mas é nas crianças que ela provoca os efeitos mais perversos. Hoje, mais de três milhões de meninos e meninas são desnutridos porque não têm o que comer. São crianças como a Maria Luzia, que não crescem direito e nem conseguem aprender direito – enfim, não conseguem ser crianças como deveriam ser.
Maria Luzia vive com a mãe, o pai e quatro irmãos num casebre em um pedacinho da região semi-árida do Nordeste, onde vivem 9 milhões de crianças pobres. O número de meninos e meninas desnutridos nessa região é quatro vezes maior que no restante do nosso país.
Na cidade de Araçoiaba, a maioria das crianças não consegue completar o primeiro ano de vida. “Dependendo da gravidade da desnutrição, a criança tem seqüelas para o resto da vida, como comprometimento metabólico, distúrbios metabólicos, queda da imunidade e conseqüentes infecções”, afirma a pediatra Gilda Gondim. “Será um adulto com retardo no desenvolvimento psíquico e comprometido na sua saúde até o final da sua vida”.
Roberta também passou fome e também é pequena para idade, os mesmos 8 anos de Maria Luzia. Mas tudo isso ficou no passado. “Naquela época, não tinha alimento para nós. O meu pai trabalhava, mas o dinheiro não dava para gente se alimentar”, lembra a menina. “Passei muita fome. Só me dava sono, sofri muito com isso”. A mãe, Maria das Dores do Nascimento, confessa: “Achei que elas iam morrer”.
Roberta e sua irmã, Renata, são duas das 20 mil crianças que nos últimos cinco anos foram salvas da desnutrição por intervenções simples, como uma política de alimentação adequada, vacinação, cuidados preventivos, criação de creches e de salas de educação infantil.
Elas também vivem na região semi-árida do país, mas em um lugar onde não existem mais crianças desnutridas. “A vida agora está diferente, mudou muito. A gente se alimenta muito e não passa mais necessidades”, diz Roberta.
São crianças como ela que fazem o nosso país comemorar a redução dos índices de desnutrição e da mortalidade infantil, mas não é por isso que esqueceremos de situações como de Maria Luzia, que ainda precisa de ajuda.
Roberta sabe bem disso: “Eu queria que tivesse comida para todas as crianças e que elas fossem felizes, tivessem saúde, paz, esperança e fé. Jesus ainda vai dar esse sonho”.
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