Seja bem vindo(a) ao nosso blog!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fotografia: Fome de afeto

Concurso de fotografias revela
a mais invisível das violências contra a infância
Há uma outra fome que também mata. É nela que o pediatra Lauro Monteiro pensou quando criou o concurso de fotografias do Observatório da Infância. Ao desafiar os fotógrafos de todo o país a captar algo tão intangível quanto a falta de afeto vivida por uma criança, ele queria denunciar a mais invisível das violências. As onze imagens selecionadas desvelam as cenas cotidianas que preferimos ignorar. São pequenos corpos que não são tocados, olhares que não encontram nenhum outro para saber que existem. Crianças assassinadas em vida, lentamente, por um gesto que não aconteceu.
É para essa brutalidade que só deixa hematomas na alma que essas fotos nos levam. Não apenas ao desamparo da infância miserável, dos meninos e meninas de rua. Mas também à solidão das crianças dentro dos lares de classe média, que choram não pelo último lançamento da indústria de brinquedos, mas por um afago que mostre a elas o contorno de seus pequenos corpos. E que um dia estancam o soluço no peito porque ninguém as escuta. Desistem. É essa a indigência que gera subnutridos de espírito, adultos partidos pelas ruas do mundo. Mutilados na infância do invisível essencial.
Lauro Monteiro criou o Observatório da Infância há pouco mais de um ano para trocar informações sobre os direitos de crianças e adolescentes. E o concurso de fotografias para estimular um olhar mais sensível e menos óbvio. Foram 90 inscrições e 266 imagens. As 11 mostradas abaixo foram selecionadas por um júri formado por profissionais renomados. Na noite desta terça-feira, 28/10, será conhecido o vencedor.

O resultado do concurso, porém, já aconteceu. Não há dor maior que a da invisibilidade. É no olhar do outro que nos reconhecemos, é ele o princípio do afeto. Ao desafiar fotógrafos no país inteiro a captar uma fome que não se mede em calorias, o médico conseguiu sua primeira vitória. A que dezenas de crianças recebessem, talvez pela primeira vez, o seu primeiro afago.

Nenhum comentário:

Postar um comentário