Em Brasilia, um professor foi espancado até perder a consciência.
Esta segunda-feira (29) será um dia marcante para o professor de história Valério dos Santos. Ele terá que voltar à rotina das salas de aula depois de passar por um trauma.
"Eles gostam de ver a violência, quanto mais violência, mais sangue, maior é o estado de êxtase dos nossos alunos", diz.
Há quatro meses, ele foi agredido por um ex-aluno. A discussão começou dentro de uma escola pública em Brasília e terminou a alguns metros do local. O professor foi golpeado pelas costas, caiu no chão inconsciente, mesmo assim foi chutado brutalmente pelo rapaz e por um amigo.
"O sentimento é de revolta profunda, será que vale a pena continuar na profissão? A vontade que eu tenho é de não pisar naquela escola e em nenhuma escola mais", desabafa.
Cirurgias no rosto, fisioterapia e tempo para refletir - depois da licença médica, o professor fez da vontade uma decisão. "Estou decidido a estudar para mudar de profissão, eu não quero mais, não quero mais lidar com o público que não quer crescer, que não quer estudar".
Para cada dia de aula, um caso de polícia: no ano passado, no Distrito Federal, foram registradas 200 ocorrências policiais contra professores nas escolas. Há uma semana, uma aluna de 13 anos disparou três tiros para assustar uma professora.
O medo inibe as denúncias. "Hoje o clima das escolas no Distrito Federal é de proteção: eu dou aula com a janela da minha sala fechada, porque eu tenho medo que venha uma bala ou que um aluno passe e jogue alguma coisa dentro da sala", diz Rosilene Corrêa, diretora do Sindicato dos Professores.
Em São Paulo, a mesma rotina de agressões e pânico. "Criou-se agora a proibição ao fumo, em qualquer ambiente escolar, tudo bem, vá você falar. Joga fumaça nas suas costas. Há um limite, o que está acontecendo é um desânimo geral dos professores, porque estão cansados de falar", diz um professor.
Abalada psicologicamente, uma professora de uma escola em Campinas tenta voltar ao trabalho. Esta semana, os alunos passaram uma cola forte na cadeira dela. Quando se sentou, o produto corroeu a calça jeans e provocou queimaduras de primeiro grau. A professora tentou voltar ao trabalho, mas não conseguiu.
"Eu entendo como uma atitude de vingança, porque o menino declarou que não gostava da professora, fez isto porque não gostava. Então, ele fez sabendo que ia machucá-la", diz o delegado Carlos Augusto de Oliveira.
Três alunos foram expulsos. A professora registrou ocorrência na polícia, mesma atitude de um professor de matemática de Cacoal, interior de Rondônia. Dois anos atrás, os alunos criaram uma comunidade na internet que ridicularizava e ameaçava o professor.
"Ameaçaram furar os pneus do carro, colocar açúcar no tanque do carro, quebrar todos os vidros do carro e uma infinidade de piadinhas maldosas a respeito", diz Juliomar Penna, professor de matemática.
"Quando o fato ocorreu há dois anos, a minha menina, por exemplo, tinha 13 anos de idade. Foi um ato inconseqüente, mas não com o propósito de denegrir o professor", diz Cícero Bordoni da Silva, pai de uma aluna que foi punida.
"Eu me senti humilhado, acho que a palavra que define é humilhado, eu me senti um zero à esquerda, eu me senti um nada mediante aquela situação", diz Penna.
A brincadeira de mau gosto começou entre alunos da 8ª série de uma escola particular e terminou na Justiça. Os pais foram obrigados a pagar a indenização ao professor. Eles recorreram, mas só conseguiram um abatimento de R$ 20 mil para R$ 15 mil.
"Eu acho injusto. Os pais são trabalhadores como qualquer um e a pena é alta, porque nós pagamos a escola e as despesas dos alunos, dos meninos", diz Rosovita Scopel, mãe de um aluno punido.
"O processo de indenização por dano moral está pendente de julgamento, está sob judice, pode haver recurso para o STJ", diz o juiz Áureo Queiroz.
Um ano e meio depois da troca de mensagens na internet, o professor foi demitido.
"Fui comunicado que não havia mais a necessidade do meu serviço, do meu trabalho na escola. Eu não posso relacionar o fato, sempre vai ficar aquela interrogação, eu fico com a pulga atrás da orelha", diz Penna.
Mesmo assim, ele não abandonou as salas de aula. "Já vi outros casos acontecerem, de pessoas abaixarem a cabeça e por medo das conseqüências. Eu não posso me omitir perante uma sociedade onde eu estou preparando o meu jovem para atuar, para ser um bom cidadão, para ser um bom profissional", diz o professor.
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