E SE FOSSE SEU FILHO?
PM foi absolvido da acusação de homicídio duplamente qualificado. Ele foi condenado por lesão corporal e prestará serviços comunitários.
“Eu estou chocada, meu filho morreu em vão”. A frase é da mãe do menino João Roberto, Alessandra Amorim, dita após o julgamento da morte do seu filho, que inocentou o policial militar William de Paula da acusação de homicídio duplamente qualificado, na quarta-feira (10), no Rio.
O Ministério Público informou que vai recorrer.“O cara que atirou teve a intenção, foi comprovado que ele teve a intenção e ele está na rua. Ele cumpriu o dever dele”, lamenta Alessandra.
“Não podemos aceitar o que aconteceu hoje. É um absurdo dizer que a pessoa estava no cumprimento do dever. Matar uma criança de 3 anos, quase matar minha mulher e meu outro filho e sair daqui impune, estar nas ruas de novo, isso não pode acontecer. Acredito até o final na Justiça. Essas pessoas vão ter que pagar pelo homicídio do meu filho. Isso não vai ficar assim. Ainda não acabou”, protesta o pai de João Roberto, Paulo Roberto.
Já para a família do policial foi um alívio. “É complicado para as duas partes, mas estou muito feliz com o resultado”, diz Walace de Oliveira de Paula, irmão do acusado.
O julgamento foi no Tribunal do Júri, no Centro, e durou treze horas. Por quatro votos a três, os jurados decidiram absolver o policial da acusação de homicídio duplamente qualificado (quando há o uso de arma de fogo sem chance de defesa para a vítima). Na avaliação do júri, o PM agiu de acordo com o que é exigido pela função dele.
O júri também não acatou a tese da acusação de que houve tentativa de homicídio contra a mãe e o irmão do menino João Roberto, e decidiu condenar o cabo William por lesão corporal. A pena estabelecida foi de sete meses em regime aberto, mas acabou substituída pela prestação de serviços à comunidade, sete horas por semana, durante um ano.
A acusação já anunciou que vai recorrer da decisão da Justiça . “Só acabou o primeiro tempo. O resultado do jogo é no segundo tempo”, declara Nilo Batista, assistente de acusação.
Elias Gonçalves, o outro policial militar acusado da morte do menor, ainda não teve o julgamento marcado.
PM reconhece que confundiu carros
No depoimento aos jurados, o cabo William de Paula reconheceu ter confundido o carro de Alessandra com o dos suspeitos. Ele informou que perseguia homens armados e que, num trecho escuro da rua, encontrou o carro da família de João Roberto parado já com outras marcas de tiro. Concluiu que poderia ser o veículo dos criminosos e fez dois disparos de advertência para baixo. O cabo disse ainda que o carro da família pode ter sido atingido no tiroteio durante o início da perseguição. O relações públicas da Polícia Militar também foi convocado pela acusação e disse que a PM tem um código de conduta e os policiais não fizeram a abordagem correta ao atirar.
O crime
O crime aconteceu em julho deste ano. A mãe de João Roberto voltava de uma festa com os filhos. Numa rua da Tijuca, na Zona Norte, ela encostou o carro para abrir passagem à patrulha. No entanto, ela e seus filhos foram cercados por policiais que participavam de uma perseguição. Alessandra jogou a bolsa do bebê pela janela para mostrar que havia crianças no veículo, mas os policiais atiraram. O carro da família foi alvo de 17 tiros, um deles atingiu João Roberto.
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