Um encontro com a História
As cenas que vivemos em 2008 não vão ficar apenas na nossa memória. No futuro, elas terão um lugar de destaque na vasta biblioteca que vai contar a história do século 21. Quantas viradas em apenas 12 meses? Este ano, o mundo mudou. Testemunhamos um encontro com o inimaginável. Ascensão de uma superpotência: a China mostrou o seu poder. Queda na economia: a prosperidade virou pó e a recessão surpreendeu o mundo. Esperança na política: um novo líder conquista a América. Segredos assustadores, terror entre quatro paredes. E a liberdade de Ingrid Betancourt, depois de anos de cativeiro. Resgates inesquecíveis. Tiros nas ruas do Brasil. Uma guerra no Leste Europeu. Conflitos na América Latina. Escândalos, surpresas e uma tragédia natural nunca vista no país.
Uma explosão devastadora. As águas de novembro causaram uma das maiores tragédias naturais da história do Brasil. Nunca se viu tanta chuva. A terra encharcada se desmanchou sobre as casas e soterrou famílias inteiras. Municípios ficaram em situação de calamidade pública. Fenômeno La Niña esfriou as águas do Oceano Pacífico e trouxe tempestades, raios e seca. Choveu granizo em Belo Horizonte. A terra tremeu em São Paulo. E até um tornado assustou o Sul do Brasil. Na Índia, um bebê foi resgatado de uma enchente. Na China, terremotos abalaram a maior população do mundo. Um ciclone varreu Mianmar e mudou o mapa. Furacões causaram desespero nas Américas.
Na Pinacoteca de São Paulo, câmeras de segurança gravaram o roubo de quatro obras de arte. Um ladrão de cabos de cobre agiu com a maior tranqüilidade no Rio de Janeiro. Policiais foram flagrados dançando durante o horário de serviço. Descontração ou conduta inadequada? Em três minutos, nove homens fizeram um arrastão dentro de uma loja. No Pará, um assaltante acertou a fivela do cinto de um policial durante um tiroteio e se rendeu diante das câmeras. Uma briga em um posto de gasolina de Porto Alegre foi registrada. Avião quase não aterrissa na Alemanha. E um balão caiu em chamas bem ao lado de uma aeronave. Foi por pouco.
O fenômeno Ronaldo foi enganado por travestis. Uma brasileira esteve no olho do furacão que varreu o governador de Nova York. Militares gays saíram do quartel para a capa de uma revista. Dona de uma voz maravilhosa, a cantora Amy Winehouse abusou: bebeu demais, se drogou demais, se arriscou demais. Madonna se encantou por Jesus Luz, um brasileiro de nome profético.
Barack Obama vira símbolo de esperança ao ser eleito nos Estados Unidos. O mundo comemorou. Um tablóide inglês comparou com a chegada do homem à Lua: um grande passo para a Humanidade. É o fim da era Bush, que deixou como herança o maior déficit da história, uma crise financeira e uma guerra que já matou 4 mil soldados americanos e 100 mil civis iraquianos. Durante a campanha, não foram poucos os percalços, escândalos, discursos racistas. A crise financeira exige ação. George W. Bush propôs um pacote de ajuda, que os próprios republicanos rejeitaram. Obama apoiou e se tornou o favorito. Às vésperas da eleição, o democrata não conteve a emoção pela morte da avó materna. No dia 4 de novembro, os americanos foram às urnas. O mundo se voltou para a América. John McCain reconheceu a derrota republicana. A vitória de Obama é carregada de expectativas.
Suspense: em pleno século 21, fomos surpreendidos por um freio no curso da História. O sonho americano acabou? O ano de 2008 foi de falência, ruína de bancos e financeiras, desemprego, queda nas bolsas. O mundo inteiro sentiu. A crise foi globalizada: atingiu ricos, pobres e emergentes de todos os continentes. O Brasil começou o ano com menos pobreza, mais empregos com carteira assinada, lojas cheias e fartura no campo. No fundo do mar, um tesouro magnífico: a camada de pré-sal veio à tona. Mas 2008 fechou com inflação. O presente preferido pelos franceses neste Natal foi dinheiro.Na China, 67 mil empresas já foram à falência. Ninguém neste planeta está sozinho a partir de agora.
Cientistas tentaram encontrar a explicação para a origem do Universo através de uma máquina projetada para recriar a grande explosão onde tudo começou. Mas um vazamento de gás adiou os planos dos cientistas. A sonda Phoenix mostrou que tem gelo em Marte. Eclipse lunar encantou moradores de São Paulo. Pesquisadores brasileiros participaram de uma descoberta histórica: o mapa da leitura no cérebro humano. Na Califórnia, um pequeno robô foi para a escola. Pesquisa de um médico brasileiro pode devolver os movimentos a quem tem paralisia. Próteses com inteligência artificial revolucionaram a vida de deficientes. Ida ao Espaço vira rotina. Uma astronauta perdeu a bolsa de ferramentas durante o expediente. Caminhadas já fazem parte do dia-a-dia na Estação Espacial Internacional. Um grande salto para nossa História.
Em 2008, vivemos momentos inacreditáveis. O padre Adelir de Carli planejou um vôo com balões coloridos. Mas o tempo mudou, e o religioso foi parar em alto-mar. Em Minas Gerais, um homem ficou mais de 30 horas preso dentro de uma cisterna. Na Turquia, um menino de 8 anos ficou preso em um cofre. Menina foi a única sobrevivente de um acidente que matou seus pais e sua irmã.
Brasil 2008: era uma vez, um ano que valeu por um século – ou mais! De repente, mergulhamos no passado, encaramos o presente e sonhamos com o futuro. Este ano, datas importantes lembraram os contrastes do nosso país. O verde da Amazônia está virando cinzas. Completamos dois séculos da chegada da família real portuguesa e um século de imigração japonesa. Também foram comemorados os cem anos da morte de Machado de Assis e do nascimento de Guimarães Rosa. Boas lembranças do passado e maus momentos do presente permeiam nossa história. Índios, sem-terra, garimpeiros e fazendeiros estão em pé de guerra. Febre amarela, malária e dengue assustam a população. Médicos, advogados, policiais, juizes, servidores públicos, prefeitos, ex-prefeitos, empresários e um banqueiro entraram na mira da Polícia Federal. Fantasmas assombraram a política. Grampos e dossiês abriram feridas e criaram CPIs. Houve fartura de gastos com cartão do governo: viagens, compras, aluguéis de carros. Vários golpes foram descobertos. Deputado Paulinho da Força Sindical escapou do Conselho de Ética da Câmara. Lula encerra o ano com a maior aprovação de um presidente brasileiro. Vêm aí os novos prefeitos, eleitos pelo voto democrático.
Em 2008, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Brasil foram peças-chave de acordos e conflitos políticos. Uma longa jornada de luta chegou ao fim: Ingrid Betancourt foi libertada pelos guerrilheiros das Farc. Uma operação militar do governo de Álvaro Uribe pôs fim ao sofrimento de seis anos na selva. Hugo Chávez enfrentou a oposição dentro de casa. Na Bolívia, oposição e governo entraram em conflito. O Equador declarou moratória e se estranhou com o Brasil. Novo presidente do Paraguai também quer rever a dívida com os brasileiros. Fidel Castro finalmente renunciou e entregou o cargo para o irmão.
Segredos de família: uma expressão que provocou calafrios em 2008. Isabella Nardoni, de 5 anos, foi jogada da janela do sexto andar como se fosse um boneco. O corpo de Raquel Maria Lobo Oliveira Genofre, de 9 anos, foi encontrado em uma mala na rodoviária de Curitiba. O seqüestro e a morte de Eloá Pimentel, de 15 anos, chocaram o país. Por sorte, não foi fatal o tiro que atingiu o rosto de Nayara Rodrigues durante a confusa operação de resgate. Na Áustria, um pai monstro trancou a filha no porão de casa durante 24 anos. No Brasil, dezenas de criminosos foram para a cadeia por crimes de pedofilia e exploração sexual. Uma menina de 12 anos foi acorrentada e brutalmente torturada pela mãe de criação.
Maus presságios se anunciaram na Copa do Brasil e até São Jorge caiu. Mas a torcida não abandonou o time, e o Corinthians deu adeus a Segunda Divisão. O tricolor paulista é hexacampeão. Enquanto isso, em São Januário, no Rio, os torcedores do Vasco estão com o coração partido com a queda do time. Nos estádios, brigas, bombas e até um raio dentro de campo. E o que dizer de um árbitro bêbado? Romário pendurou as chuteiras.
Duas mil cruzes foram colocadas ao longo de uma avenida. Quatro mil balões simbolizaram lágrimas de sangue na praia. Em Copacabana, 16 mil cocos representaram cabeças tombadas. Traficantes e milícias duelaram no Rio. Qualquer semelhança com uma guerra não é só aparência. Em São Paulo, polícias entraram em confronto. Balas e até bombas foram disparadas. No Rio, a polícia derrubou a muralha do tráfico. O carro da família de João Roberto foi confundindo com o de bandidos e alvejado pela polícia. O menino morreu. Do lado de fora dos presídios, somos prisioneiros. Por trás das grades, o crime é perfeito. Traficantes usam telefone celular como arma. Aparelhos entram na cadeia escondidos no recheio de esfirras, no corpo de meninas, na cabeça de crianças que usam perucas como disfarce. Autoridades foram assassinadas. Traficante de segurança máxima foi para a cadeia de jatinho. Maconha apreendida viajou de helicóptero. Policiais cumprem pena em um presídio militar sem estresse. Periferia e Zona Sul do Rio são vítimas do mesmo impasse: de quem será a responsabilidade pelas mortes violentas? Homicídios e acidentes de carro são os grandes responsáveis pelas mortes violentas que atingem os filhos deste solo.
Até onde ninguém esperava, a violência marcou território. Na Grécia, a morte de um adolescente por um policial foi o estopim de uma onda de protestos em Atenas. Na Índia, ataques sangrentos espalharam o horror em Mumbai. Manifestantes pedem a independência do Tibet. Um jornalista atirou sapatos na direção do bpresidente George W. Bush. Os Estados Unidos retiraram a Coréia do Norte da lista dos países que apóiam o terror. Mas o Irã fez novos testes com mísseis. No Afeganistão, o Talibã ameaça um dos herdeiros do trono britânico. Israelenses e palestinos continuaram em pé de guerra. Na costa africana, guerrilheiros somalis seqüestraram navios e pediram resgates milionários. No Quênia, a reeleição do presidente transformou o país em campo de batalha. Países do Leste Europeu disputam a província da Ossétia do Sul. Dmitri Medvedev assume o poder na Rússia. Silvio Berlusconi promete acabar com a crise do lixo no sul da Itália. Novos tempos: a jovem cantora Carla Bruni agora é primeira-dama da França.
O Brasil e o mundo perderam um pouco de graça em 2008. Entre as personalidades que vão deixar saudades estão a atriz Dercy Gonçalves, o ator Paul Newman, a cantora Sylvinha Araújo e compositor Dorival Caymmi.
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