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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Dólar fecha na maior cotação desde 2005 e Lula compara a crise com a relação entre médico e paciente

RIO - O preço do dólar chegou a R$ 2,536, a maior cotação desde de 24 de abril de 2005. Foi uma alta de 2,46% no dia, provocada pela saída de recursos estrangeiros e aumento no volume de negócios no mercado futuro de dólar. Segundo analistas, a alta tem explicações no movimento do mercado, mas também reflete um tanto de especulação contra o real. A Bovespa fechou em baixa de 0,48% num dia em que o mercado foi bombardeado por uma série de notícias reforçando o cenário pessimista. Nos EUA empresas anunciaram novas demissões, enquanto a Vale do Rio Doce, um dia após anunciar corte de pessoal no Brasil, abriu um programa de aposentadoria incentivada para a sua representação no Canadá. O presidente Lula cobrou do presidente da Vale explicação sobre as demissões e usou uma metáfora médica para comentar a crise, dizendo que o aconselhável é sempre o afirmar ao doente que ele vai se recuperar.

Lula ainda disse que se sente um Dom Quixote solitário, pedindo que as pessoas não se deixem dominar pelo pessimsimo e comparou o mercado financeiro a um adolescente que não ouve os pais, mas corre para casa quando tem uma dor de barriga.

-Nesse caso (a crise), aliás, foi uma diarréia braba. E quem eles chamaram? O estado, que eles negaram por anos - disse o presidente.

O dólar abriu o pregão desta quinta-feira em forte elevação, bateu os R$ 2,50 e depois passou a operar volátil. Desde a menor cotação da moeda no ano, R$ 1,559 em 1º de agosto de 2008, o dólar já subiu 62,66%. Desde 15 de setembro - dia da quebra do banco americano Lehman Brothers e considerado o ponto de partida para o agravamento da crise originada na concessão de créditos imobiliários de alto risco nos EUA (subprime) - a moeda americana já se valorizou 40,18%.

Segundo os analistas, a alta no preço do dólar reflete tanto a saída de recursos quanto especulação contra o real.

- No momento de muita preocupação com a deflação nas economias mais fortes do planeta, a maior preocupação no mercado de câmbio é a fuga de capitais, que tem deixado o Banco Central bastante atento e cauteloso. Com tanta saída de moeda estrangeira, é bem provável que o BC não reduza os juros do Brasil - comentou Mário Paiva, analista de câmbio da Corretora Liquidez.

O Banco Central (BC) só realizou um leilão de venda de dólar em swap, quando a moeda bateu R$ 2,56 no dia.

No mercado acionário, a Bolsa de Valores de São Paulo não resistiu às quedas nas bolsas internacionais e fechou em baixa de 0,48% aos 35.128 pontos, depois de enfrentar forte volatilidade no dia. Mais uma vez, o desaquecimento da economia global pressionou o preço das commodities e derrubou as principais ações do Ibovespa. Os papéis de maior peso posicionados em commodities fecharam em queda nesta quinta-feira: Petrobras PN desceu 3,68%, cotada a R$ 18,60 e Vale PNA caiu 2,23, a R$ 21,98.

Petróleo em forte queda
Os sinais de fraqueza da economia mundial pressionaram também a cotação do preço do barril de petróleo que alcançou, no dia, a menor cotação em quatro anos. O petróleo do tipo Brent foi negociado a US$ 43,90, em queda de 6,5%. Em Londres, o barril do tipo Brent apresentou queda de 7,59%, a US$ 42.

No mercado acionário a cautela e volatilidade voltaram a dar o tom no dia, em meio ao cenário de recessão. Por volta das 18h30 (horário de Brasília), a Bolsa de Nova York ainda operava em queda. As principais bolsas européias fecharam em queda. O índice FTSE, da Bolsa de Londres, caiu 0,15%; o CAC40, da Bolsa de Paris, recuou 0,17%; e o Dax, da Bolsa de Frankfurt, desceu 0,07%.

Mais cedo, as bolsas de Londres, Paris e Frankfurt chegaram a subir perto de 2%, com a notícia de corte de juros pelos bancos centrais europeus , o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também abriu em alta de 1%, mas por volta das 12h15 (horário de Brasília) já recuava.

O dado mais relevante do dia foi referente ao número de pedidos de seguro desemprego dos Estados Unidos, que recuou em 21 mil pedidos. Mas analistas avaliaram que esta queda aconteceu também por influência do feriado de Ação de Graças semana passada, quando durante quinta e sexta-feira não houve atendimento para a solicitação do benefício.

A média das últimas quatro semanas, no entanto, foi a mais alta dos últimos 16 anos, o que também causou retração dos investidores e pressionou os índices em Wall Street.No dia ainda também houve o discurso do presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, que deixou claro que o governo americano não medirá esforços para evitar novas execuções hipotecárias , que foi a origem da atual crise financeira mundial.

Outro fato que gerou tensão nos mercados acionários de Nova York foi a discussão no Congresso americano a respeito do futuro das três principais montadoras americanas: Ford, Chrysler e General Motors (GM). O total solicitado para manter as empresas em funcionamento soma US$ 35 bilhões.

Na Ásia, só China sobe

Na Ásia, o dia foi de baixa, refletindo os crescentes temores em relação à desaceleração da economia global.

Veja ainda: Grandes empresas continuam a demitir. Credit suíço vai cortar 5,3 mil empregos.

No Japão, o índice Nikkei da bolsa de valores de Tóquio encerrou os negócios nesta quinta-feira com queda de 1,0% a 7.924 pontos. Em Hong Kong, o índice Hang Seng teve uma desvalorização mais branda, de 0,58% a 13.509 pontos.

Saiba mais: pesquisa mostra que contração do PIB japonês pode ser maior.

Na contramão, o índice da bolsa de Xangai registrou uma valorização de 1,84 por cento, para 2.001 pontos, refletindo o bom comportamento das ações de empresas financeiras, que se beneficiaram das medidas adotadas pelo governo na quarta-feira para garantir liquidez.

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