Juiz decreta que governo reabra Pronto-Socorro do HGV ou pagará multa
O juiz Sebastião Ribeiro Martins já julgou e divulgou o resultado da ação impetrada pelo Ministério Público Estadual contra o fechamento do pronto-socorro do Hospital Getúlio Vargas. Em seu despacho o juiz determina que o Governo do Estado reabra o Pronto-Socorro do hospital e que a prefeitura de Teresina abra paulatinamente o atendimento do Hospital de Urgência de Teresina no prazo de 30 dias.
Se a decisão for descumprida a multa diária é de R$ 10 mil, sem prejuízo das sanções cíveis, penais e administrativas cabíveis.
Ainda em caso de descumprimento, o juiz decreta que a multa deverá ser suportada pessoalmente pelos agentes públicos responsáveis pela adoção das medidas necessárias, ou seja, o Governador Weelington Dias, o secretário de Saúde Assis Carvalho, o prefeito sílvio Mendes e o presidente da Fundação Municipal de Saúde, João Orlando.
Decisão rápida
Inicialmente o juiz Sebastião Martins afirmou que o resultado da ação estava previso para ser divulgado na sexta-feira (01) pois as partes tinham 72 horas para apresentarem defesa, mas tanto o Governo do Estado quanto o município foram agéis em apresentarem suas defesas. CLIQUE AQUI E CONFIRA AÇÃO CIVIL NA ÍNTEGRA
HGV tem dia de caos com transferências
Tumulto e desencontro de informações marcaram todo o dia de ontem, no Pronto-Socorro do Hospital Getúlio Vargas. Muitos pacientes tiveram que passar por um verdadeiro jogo de pingue-pongue até conseguirem atendimento. Isto porque apenas os casos considerados de alta complexidade como os poli-trau-matismos, traumas ortopédicos estavam sendo atendidos pelo HGV, sendo que os demais pacientes estavam sendo refe-renciados a procurarem o Hospital de Urgência Zenon Rocha. As ambulâncias para o HZR saíam lotadas e a falta de informações fazia muitos irem e virem entre um hospital e outro.
A dona de casa Maria de Deus foi encaminhada ontem, da cidade de Altos, a 37 km de Teresina para o HZR, mas ao chegar no hospital recebeu a notícia de que teria que ir para o HGV e ao chegar neste foi informada de que o caso de seu pai, com 80 anos de idade, teria que ser resolvido no HZR.
"Estou sem saber para onde ir agora", disse ela, aparentemente confusa com a situação. Ainda na portaria ela chegou a ser informada de que poderia levar o pai para o hospital do Dirceu Ar-coverde ou ainda para o Promorar. Somente depois de alguns minutos, na presença da imprensa, a Direção do hospital resolveu admitir o paciente no HGV.
Caso não muito diferente foi o da aposentada Camélia Moura Fé, que desde o domingo tentava o atendimento no HGV. O seu esposo, Elias de Moura Fé, 66 anos, sofreu um traumatismo craniano e estava necessitando de uma tomografia. A senhora procurou atendimento no HZR, mas teve que retornar para o HGV.
A também aposentada Maria das Graças Alves Silva estava acompanhando a sogra Raimunda Pereira da Luz, 80 anos, ambas da cidade de São Miguel do Tapuio, a 227 Km de Teresina. Após 45 dias em tratamento, ela descobriu que a medicação estava sendo aplicada de forma incorreta e sua pressão arterial havia subido mais que o normal e estava precisando de uma injeção para baixar a pressão.
"O atendimento estava sendo feito na rede particular e daí descobrimos que o médico fez tudo errado. Agora, chego aqui com ela passando mal e apenas me disseram que eu teria que ir para o novo pronto-socorro. Se ela tiver um AVC aqui, quem será o responsável?", perguntava a senhora desesperada.
Histórias como estas se repetiam a cada minuto diante o caos que se formou por conta da notícia de fechamento do pronto-socorro do HGV. As pessoas estavam sem saber que hospital procurar.
Conselho de Saúde realiza manifestação hoje
O Conselho Estadual de Saúde irá fazer manifestação em frente ao Pronto-Socorro do Hospital Getúlio Vargas. A entidade é contrária ao fechamento do pronto-socorro do HGV e ainda a transferência de pacientes do HGV para o Hospital de Urgência Zenon Rocha. Os manifestantes irão colher assinatura da população para então formalizarem um documento.
De acordo com a técnica em enfermagem, Maria Luiza de Sousa, que é servidora do HGV, no decorrer dos 67 anos de existência do HGV, nunca houve a sinalização de que um dia os atendimentos de urgência e emergência seriam desativados.
"Isto vem a ferir um dos princípios básicos no atendimento médico. Acredito que toda esta confusão já virou uma questão política e a pergunta que fica é: quem será o responsável no caso de uma morte diante toda esta confusão ?", disse Maria Luiza.
Maria Luiza denunciou a sobrecarga de trabalho durante os plantões e que a escala de parâmetro e dimensionamento, que prevê a assistência de seis pacientes por cada técnico, não está sendo levada em consideração. Para ela, a transferência dos servidores do HGV para o HZR ainda não está clara e que estes servidores estão sem a verdadeira definição do que irá acontecer.
Ambulâncias não eram suficientes para transferência
A equipe de reportagem do DIÁRIO DO POVO acompanhou ontem, a transferência de pacientes do Hospital Getúlio Vargas para o Hospital de Urgência Zenon Rocha, pronto socorro municipal e as ambulâncias disponibilizadas para o transporte dos pacientes eram insuficientes. Em uma das viagens, feitas por uma só ambulância, quatro pacientes e mais quatro acompanhantes tiveram que ser acomodados desconfortavelmente no mesmo espaço. Um paciente chegou a sair do HGV para ser transferido, mas após ser constada a lotação da ambulância, teve que retornar para o hospital. Somente na segunda viagem feita pela ambulância o paciente foi transferido, desta vez com mais três pacientes.
De acordo com Aderivaldo Barbosa, diretor do pronto-socorro do HGV, os pacientes estavam passando por uma triagem e os pacientes não traumáticos não seriam admitidos pelo HGV. Apesar da informação de que os pacientes vítimas de acidentes, ferimentos por arma de fogo e arma branca seriam atendidas pelo HGV, o autônomo Antonio Paulo Gomes da Silva, residente em Altos, foi vítima de pelo menos quatro facadas e recebeu alta médica. Com os curativos soltos e o corpo todo ferido esperava por uma ambulância na porta do HGV para voltar para casa, correndo o risco de infecção. Até o inicio da manhã de ontem, pelo menos 57 pessoas haviam dado entrada no HGV e até às 11h, aproximadamente 10 pacientes haviam sido transferidos para o Hospital de Urgência Zenon Rocha.
CRM diz que transferência foi abrupta
A movimentação no Hospital de Urgências Zenon Rocha, o novo pronto-socorro de Teresina, também foi intensa, ontem. Várias ambulâncias vindas do interior do Estado, como de Altos, Demerval Lobão e Sigefredo Pacheco, foram direto para o HZR. Até as 11 horas de ontem, 26 pacientes passaram pelo HZR, mas quatro foram transferidos para o HGV. Entre eles, estava o aposentado Bernardo Coelho, de 80 anos, que chegou ao hospital numa ambulância do município de Altos. O paciente apresentava problemas urológicos e necessitava de cirurgia, que ainda não é realizada no novo pronto-socorro.
O presidente do Conselho Regional de Medicina, Wilton Mendes, visitou o novo hospital na manhã de ontem, depois de passar pelo HGV.
"No HGV está uma loucura, um tumulto. Lá, me disseram que foram transferidos cinco médicos para o HZR. O Conselho veio confirmar a informação", disse.
Wilton Mendes afirmou ainda que faltou bom senso no processo de transferência, que está sendo feito de forma abrupta, como se estivesse transferindo "mercadorias" de um hospital para outro. Ele criticou ainda a nota divulgada pelo Governo no Estado na televisão que, ao invés de esclarecer, causou pânico entre a população piauiense.
"Estamos preocupados com o mau atendimento e no final ainda vão dizer que a culpa disso tudo é dos médicos. Na verdade, a culpa é dos gestores públicos", disse.
O HGV também transferiu sete pacientes para o HZR na manhã de ontem, até as 11 horas. Algumas ambulâncias transportaram até quatro pacientes de uma só vez, do pronto-socorro do HGV para o HZR. Juntamente com os acompanhantes, as ambulâncias chegavam ao novo pronto-socorro com até dez passageiros. O aposentado Manoel Gomes da Costa, de 64 anos, veio do município de Dom Inocêncio, passou pelo HGV, mas foi aconselhado a se dirigir ao HZR. Ele chegou ao hospital com diagnóstico de Insuficiência Cardíaca Congestiva- ICC e foi atendido no local.
Além dos pacientes transferidos, 15 procuraram diretamente o HZR sem antes passar pelo HGV. Foram 11 pacientes na área de clínica médica, dois pacientes cirúrgicos e dois na área de clínica pediátrica. Todos os pacientes que chegam ao HZR passam por uma triagem, que acontece logo na portaria do pronto-socorro. Se o caso puder ser atendido no HZR, o paciente preenche uma ficha e segue para a urgência, onde será feito o diagnóstico. Na equipe de triagem há um clínico, um pediatra e um cirurgião. A Direção do hospital não concedeu entrevista à imprensa. Só presidente da FMS poderia falar.
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