BRASÍLIA e RIO - Um dia após a morte do menino João Roberto Soares, de 3 anos, baleado na Tijuca, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, chamou, nesta terça-feira, de insanos e débeis mentais os policiais militares envolvidos no incidente, segundo o RJTV,da TV Globo.
O governador reconheceu que a formação dos policiais está longe da ideal e anunciou que vai devolver às ruas 290 homens cedidos a órgãos do Judiciário e da Assembléia Legislativa. Cabral apresentou um reforço na reciclagem de policiais civis e militares, bombeiros e guardas municipais, que já atuam nas ruas. Em 13 Telecentros, com computadores ligados à internet, vão ser oferecidos 27 cursos de especialização com a duração de até 45 dias.
Para Cabral o incidente foi uma atrocidade. O corpo da criança foi enterrado nesta terça. João Roberto foi atingido por tiros dentro do carro onde estava com a mãe o irmão, no domingo à noite.
- Uma atrocidade cometida contra inocentes. Os policiais estão presos e responderão não só do ponto de vista administrativo, mas do ponto de vista criminal - disse Cabral.
Cabral disse ainda, segundo o telejornal, que os policiais envolvidos na morte de João foram incompetentes, pois não souberam agir num momento de tensão. De acordo com a TV Globo, Cabral anunciou que os pms serão expulsos da corporação. Na segunda-feira, o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, já havia afirmado que ação dos policiais foi "desastrosa".
O delegado titular da 19ª DP, Walter Alves de Oliveira, disse nesta terça-feira que pediu a prisão temporária de 30 dias do cabo William de Paula e do soldado Elias Gonçalves da Costa, acusados de atirar no carro da advogada Alessandra Soares e que acabaram matando o menino João Roberto Soares. Na tarde desta terça, motivada pela representação do delegado, a promotora Cristhiane Barbosa Monnerat pediu à Justiça a decretação da prisão temporária dos acusados por 30 dias.
O delegado indiciou os policiais por homicídio doloso qualificado. De acordo com ele, houve a intenção de matar sem chance de defesa da vítima.
Apesar do vídeo, os PMs mantiveram nesta terça, na sindicância aberta no 6 BPM, a versão de que o veículo foi atingido durante um tiroteio com bandidos na Rua General Espírito Santo Cardoso. Eles sustentaram que os bandidos pararam o Fiat Stilo atrás do Palio Weekend de Alessandra. Sempre muito sorridente, o tenente-coronel Loury disse que "os PMs reconheceram que houve uma merda muito grande, injustificável". O comandante do 6 BPM disse que o ainda cerco foi "uma ação eficaz" na Rua Uruguai, mas lamentou o desfecho trágico:
- Só abandonando o carro, não atacando mais ninguém, já estava bom. Tinha tudo para dar certo, e não deu. Não sei o que se passou na cabeça desses policiais para cometerem esse ato.
O resultado da perícia feita no carro da mãe da vítima deve ficar pronto nesta quarta. A diretora do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Martha de Souza Pereira, explicou que o laudo vai apontar quantos disparos foram feitos e de que armas. Ela aguarda receber o projétil retirado da cabeça do menino.
A sindicância será encerrada nesta quarta e o relatório com as conclusões será entregues à 19 DP. Segundo Loury, o cabo William estava na carona da patrulha e carregava um fuzil, enquanto o soldado Elias dirigia o veículo, armado com uma pistola.
- Mesmo que os bandidos estivessem efetivamente lá (atrás do carro da vítima), não há justificativa para colocar a moça em perigo. Temos normas para usar o armamento e isso não foi obedecido - disse o comandante do 6 BPM.
Tarso classifica crime de "barbárie"
O ministro da Justiça, Tarso Genro, classificou de "barbárie" a morte do menino João Roberto Soares, de 3 anos. Tarso disse que o caso revela o despreparo da polícia.
- Mostra um total despreparo da polícia. Atos como esse demonstram a importância suprema de um projeto como o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), que exige preparo policial, ponderação e que o policial sabia contratar valores. O policial tem que saber naquele momento que mais vale a pena deixar o criminoso fugir do que arriscar uma vida de um cidadão, de uma cidadã inocente, de uma criança - afirmou Tarso.
Indagado se a população do Rio deveria continuar confiando na policia tarso respondeu que sim:
O velório do menino João Roberto Soares , de 3 anos, morto por policiais que confundiram o carro de sua mãe com o de bandidos, domingo, na Tijuca, transcorreu sob forte comoção (veja fotos do enterro) . Muito abalados, os pais do menino saíram do Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio, dentro de uma ambulância do Samu. Durante o cortejo, a mãe de João, a advogada Alessandra Amorim Soares, teve que parar três vezes para conseguir continuar a caminhada. João Roberto foi enterrado sob uma salva de palmas pedida por seu pai. O menino foi enterrado com a roupa do Homem Aranha, seu super-herói favorito.
O pai de João, o taxista Paulo Roberto Soares, protestou aos gritos, dentro da capela:
- Eu sou carioca, amo a minha cidade. Tiro meu meu sustento daqui. Nós não merecemos isso. Estou revoltado.
Uma carreata em protesto pela morte do menino deixou o trânsito lento na Radial Oeste. ( veja fotos )
Cerca de 300 pessoas - entre parentes, amigos, vítimas da violência e integrantes de ONGs - compareceram ao enterro. Nenhuma autoridade compareceu ao enterro. Amigos da família reclamaram que nenhum representante do governo do estado sequer enviou uma coroa de flores ou entrou em contato por telefone.
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