Seja bem vindo(a) ao nosso blog!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A triste e ultrajante rotina do trabalho infantil

Marcelo Canellas e Lúcio Alves mostram mais um absurdo
da crise dos alimentos em Honduras e na Nicarágua.
Segurança, saúde, educação são direitos básicos de todo cidadão. Mas e quando a fome faz da sobrevivência a maior das necessidades?

Boa é a idade de ser carregado, o costume ancestral de andar a tiracolo nas costas da mãe. Mas a tradição amorosa da herança indígena está sendo massacrada pela crise.
Hoje há mais crianças centro-americanas trabalhando do que havia um ano atrás. Só em Honduras são 800 mil. Salomon Ramos é agricultor em Jesus Teodoro, a 180 quilômetros de Tegucigalpa. Diz que colocou os filhos para catar lixo porque o preço dos alimentos subiu demais e ele precisa de mais dinheiro.

“É a prefeitura que paga os garotos”, ele diz. Cem lempiras, ou R$ 10 por dia. Trabalho infantil institucionalizado e oficial.

Emerson tem 13 anos. Carrega areia das 9h às 13h. A cada três carrinhos cheios, ganha o equivalente a R$ 3. As irmãzinhas Caterine, de 5, e Delmi, de 7 anos, pareciam estar brincando com o monte de areia acumulado por Emerson. Demoramos a compreender que aquilo não era uma brincadeira.

"Elas estão botando areia nos baldinhos pra carregar lá pra cima”, explica o menino.

Baldinhos de praia agora são ferramentas de trabalho e a ladeira imensa, uma tarefa a cumprir. A mãe de Emerson e das meninas é quem vende a areia.

Camponesa, ela diz que não pode mais comprar adubo, que está muito caro. Então vende areia. Tudo o que a família consegue é para comprar feijão. Carne não passa nem perto da cozinha.

Comendo um único tipo de alimento, 45% das crianças que vivem no campo estão desnutridas. “Aqui a vida é difícil”, diz a mãe das crianças.

No interior da Nicarágua, poeira e mormaço. E crianças. Milhares delas esticando cordinhas nas estradas esburacadas do país. Quando vê um carro, Madiel estende o pedágio da mendicância. Quando ganha uma moedinha, abre um sorriso. Conta o dinheiro, enfia no bolso. É claro que corda nenhuma impede passagem de ônibus nenhum.

O que há é um jogo de concessões e apatia. O pai de Madiel, Ramon, é agricultor sem-terra. Mora no barranco da estrada onde o filho ganha o dinheiro da casa.
O garoto que sustenta a família de dez pessoas não brinca nem estuda. Embora, bem perto dali, exista uma escolinha rural onde os meninos jogam beisebol no recreio, e onde se lê na porta: “Tenha consideração pelos sentimentos dos outros”.

Na última reportagem da série, a esperança. Como uma pequena parte da população conseguiu vencer o flagelo da fome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário