É o que diz o relatório do delegado Ricardo Saadi,
que assumiu o inquérito contra Daniel Dantas e o
Grupo Opportunity, depois da saída do coordenador
da Operação Satiagraha, Protógenes Queiroz.
O Ministério Público Federal prepara mais uma denúncia contra os principais investigados na Operação Satiagraha baseada num relatório novo da Polícia Federal. O delegado que assumiu o inquérito vê indícios de crimes financeiros e de formação de quadrilha. É o que mostra esta reportagem exclusiva de César Tralli.
O relatório é assinado pelo delegado Ricardo Saadi, diretor de combate a crimes financeiros da Polícia Federal, em São Paulo. Ele assumiu o inquérito contra Daniel Dantas e o Grupo Opportunity, depois da saída do coordenador da Operação Satiagraha, delegado Protógenes Queiroz.
Sob novo comando, a investigação se concentrou em documentos apreendidos no dia da operação e em depoimentos de testemunhas. No relatório, o delegado Saadi afirma: “Depois do que foi analisado, pudemos constatar que Daniel Valente Dantas lidera uma organização criminosa”.
O novo delegado atribui ao banqueiro Daniel Dantas os crimes de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. No relatório, Ricardo Saadi diz que precisa de mais tempo para terminar o inquérito.
Ainda falta analisar informações do grupo que foram recolhidas de computadores e estão protegidas por senhas. No relatório, o delegado diz que o Grupo Opportunity cresceu nos anos 90, quando criou fundos para comprar empresas de telecomunicações, no processo das privatizações.
“Durante a gestão das empresas arrematadas, houve desvio de recursos das companhias”, o delegado escreveu. E ele diz também: “Parte dos recursos da gestão fraudulenta foi lavada através da compra de fazendas e de gado e também por meio de terrenos para a exploração de minério”.
Um dos fundos do grupo, o Opportunity Fund, está registrado nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe. De acordo com o delegado, a existência de clientes brasileiros nesse fundo seria completamente irregular. O fato, segundo ele, foi comprovado por diversas fontes, inclusive doleiros.
“Esses doleiros confirmaram que brasileiros residentes no Brasil enviaram recursos para o exterior e isso era proibido à época. Na verdade, portanto, essas pessoas confirmaram a prática do crime de evasão de divisas”, afirmou o procurador da República Rodrigo de Grandis.
Em outro trecho, o novo coordenador da investigação, o delegado Ricardo Saadi, escreve: “A organização criminosa liderada por Daniel Dantas usa corrupção e intimidação para alcançar seus objetivos”.
Entre os exemplos, cita o que chama de tentativa de corromper um delegado federal. Parte da negociação de US$ 1 milhão foi gravada num restaurante.
Ricardo Saadi também diz que pessoas influentes servem à organização de Dantas: um dos nomes destacados por ele foi o do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado federal pelo do PT.
Os chamados lobistas, segundo o relatório, tinham como função principal obter informações de interesse do grupo e fazer contatos com pessoas importantes, inclusive políticos e integrantes do governo.
O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, nega todas as acusações e diz que a investigação contra o Opportunity está comprometida.
“Tudo o que de errado foi feito pelo Dr. Protógenes se estende no tempo e se irradia pela causa. O Dr. Saadi, por mais bem intencionado que ele seja, não pode inventar os fatos. O que eu vi no relatório dele foi uma conclusão aligeirada, sem profundidade nenhuma e eu demonstrarei, no momento oportuno, todas as equivocidades, todos os vazios, todas as inconsistências, todas as incongruências destas novas meias verdades que se propalam, tentando transformá-las em verdades plenas”.
O advogado de Protógenes Queiroz afirmou que toda a investigação feita pelo delegado se baseou na lei. O ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh disse que, no momento oportuno, vai contestar a inclusão do nome dele no relatório da polícia.
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