BRASÍLIA - A Polícia Federal (PF) em Roraima desarticulou nesta quinta-feira um esquema de tráfico de drogas e prostituição infantil envolvendo autoridade e empresários do estado de Roraima. Oito pessoas foram presas, entre elas o procurador-geral de Roraima, Luciano Alves Queiroz, o major da polícia militar Raimundo Ferreira Gomes, o funcionário do Tribunal de Regional Eleitoral (TRE-RR) Hebron Silva Vilhena, e Lidiane do Nascimento Foo, mãe de uma das crianças abusadas. A PF também prendeu quatro empresários, que seriam clientes do esquema. O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB) anunciou o afastamento do procurador-geral do cargo.
- A mãe de uma das crianças abusadas, a Lidiane, levava a menina para o motel junto com outras coleginhas sem o conhecimento das outras mães - disse o superintendente da PF de Roraima, José Maria Fonseca.
A rede de exploração sexual de crianças e adolescente entre 6 e 18 anos idade foi descoberta a partir de uma investigação de tráfico de drogas depois de uma denúncia do Conselho Tutelar . A investigação estava sendo realizada há seis meses em conjunto com o Ministério Público. Um dos empresários foi preso em flagrante, em casa, com uma menina de 10 anos. Os envolvidos no esquema estão sendo acusados de formação de quadrilha, prostituição infantil, estupro presumido, exploração infantil, corrupção de menores e atentado violento ao pudor. Dois deles também são acusados de tráfico de entorpecentes.
O delegado Alexandre Ramagem, responsável pela Operação Arcanjo, disse que algumas crianças estão viciadas em cocaína. Elas recebiam drogas antes, durante e depois dos programas. As meninas que participavam do esquema são de família humildes da periferia de Boa Vista e sem um ambiente familiar sólido. A polícia tem a comprovação de envolvimento de 10 crianças e adolescentes entre 6 a 18 anos.
A polícia tem também imagens do procurador -geral de Roraima pegando meninas em casa e levando para o motel. Conversas telefônicas também foram gravadas. Ele pagava de R$15 a R$50 por cada programa realizado com uma freqüência de dois a três dias por semana, tanto em motéis como também em sua residência. Além de ser um cliente constante, segundo a polícia, Luciano Queiroz era ligado ao esquema de prostituição infantil.
Ainda de acordo com a PF, nos diálogos interceptados é registrada a dissimulação utilizada por aliciadores e clientes para retirar crianças e adolescentes da casa de seus pais a fim de submetê-las a abusos sexuais, bem como a ida dos aliciadores até as escolas para buscar meninas com o objetivo da realização de programas sexuais.
Lidiane do Nascimento Foo, Givanildo dos Santos Castro e o major da polícia da polícia militar Raimundo Ferreira Gomes, são apontados na investigação como os responsáveis de coptar as meninas para os programas sexuais . O policial militar já conta com condenação de mais de 25 anos por crimes de estupro no município de Caracaraí (RR), porém, continua em liberdade porque não foi preso em flagrante. Eles também integravam o esquema de tráfico de drogas, inclusive com o fornecimento cocaína para crianças e adolescentes submetidas à exploração sexual.
O procurador-geral de Roraima foi quem deu entrada, em abril, na ação cautelar, com pedido de liminar, para suspender a Operação Upatakon 3, destinada a retirar os não-índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
O governador de Roraima, José de Anchieta Junior, disse que se as denúncias forem comprovadas, o procurador será exonerado. Na chegada à Polícia Federal, o procurador Luciano Queiroz disse que foi detido em represália contra sua atuação na operação para retirar os não - índios da reserva indígena Raposa Serra do Sol.
O comando da Polícia Militar disse que o major vai ficar preso no quartel da PM. Se as denúncias foram comprovadas, ele responderá a processo na Justiça comum. O Ministério Público vai ouvir as crianças identificadas. Os pais delas serão chamados para prestar esclarecimentos.
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