BRASÍLIA - Piorou o desempenho de mais de um terço das escolas públicas do país na avaliação do Ministério da Educação (MEC) que mede a qualidade do ensino na 8 série. Dos 21.090 colégios que participaram das duas edições do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), 7.484, o equivalente a 35,5% do total, receberam uma nota pior no exame do ano passado do que em 2005. Outras 7,1% tiveram o mesmo desempenho e 57,4% melhoraram. Na avaliação dos estudantes que cursavam a 4ª série do Ensino Fundamental, houve queda nos resultados de 25,6% das escolas; 6,3% mantiveram a nota e 68,1% melhoraram. Os números, divulgados na sexta-feira pelo MEC, desafiam o sistema de metas fixado pelo governo para elevar os índices progressivamente nos próximos 20 anos.
Para Paulo Corbucci, analista de educação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o resultado reforça a necessidade de destinar mais recursos às escolas com pior desempenho. Avalia que é cedo para saber se as metas do governo para 2022 estão em risco, mas diz que os números devem servir de alerta para a formulação de políticas públicas e para a divisão do orçamento do setor.
- Se isso se tornar uma tendência, é preocupante. A piora no índice reforça a necessidade de dar atenção especial a essas escolas - afirma Corbucci.
Professor diz que governo deve analisar resultados
O professor Erasto Fortes, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), diz que é preciso enviar pesquisadores aos colégios que registraram piora na avaliação federal.
- O governo precisa fazer uma avaliação qualitativa dessas escolas para entender o que aconteceu - diz.
O Ideb leva em conta o índice de aprovação dos alunos e os resultados de duas avaliações nacionais: a Prova Brasil, aplicada nas escolas urbanas, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), nas escolas rurais. Semana passada, o MEC já havia divulgado as médias estaduais e nacional. Desta vez, foram liberados os dados sobre os municípios e as escolas avaliadas.
Os novos dados retratam a desigualdade na educação pública entre as regiões brasileiras. No ranking das redes municipais de ensino, as dez primeiras posições na 4ª série são ocupadas por cidades de São Paulo (veja o resultado da 4ª série das escolas de São Paulo ).
A lista é liderada pelo município de Adolfo, com nota 7,7. Na lanterna estão sete municípios do Nordeste e três do Norte. O pior é Barra do Rocha, no interior da Bahia, com média 1,6. (veja o resultado da 8ª série das escolas de São Paulo ). Pior Ideb de 8ª foi registrado em Chalé, MG
Na avaliação da 8ª série, o diagnóstico é semelhante. Os dez primeiros municípios da lista ficam no Sul e Sudeste . O campeão é Imigrante, fundado por colonos italianos e alemães no interior do Rio Grande do Sul, com nota 6,6. Em quinto, aparece Miguel Pereira, no Rio, com média 5,7 (veja o resultado da 4ª série das escolas do Rio ).
Das dez piores redes, nove ficam no Nordeste. O pior Ideb foi registrado em Chalé, no interior de Minas Gerais, com 1,1. Mas a taxa de apenas 25% de aprovação na 7ª série, que puxou a média para baixo, pode indicar erro no cálculo do MEC. (veja o resultado da 8ª série das escolas do Rio)
Para os especialistas, os números ainda não refletem os impactos do Plano Nacional de Educação, que começou a sair do papel ano passado. Uma das principais medidas é a destinação de recursos extras do Fundeb, o fundo de incentivo à educação básica, aos municípios com piores indicadores no exame do MEC. Os estudiosos avaliam que o pacote só começará a produzir efeitos no Ideb de 2009. Mas o professor da UnB diz que os resultados apontam a necessidade de ampliar o número de municípios que recebem verbas adicionais do governo federal:
- Historicamente, o país sempre investiu mais nos setores que já tinham qualidade, o que é uma forma perniciosa de distribuir os recursos públicos.
Na avaliação de Corbucci, do Ipea, o governo precisa encontrar uma forma de priorizar as escolas das regiões mais pobres das grandes cidades.
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