O patrimônio milionário do presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados
de São Paulo, dublê de empresário de turismo
O sindicalista Genival Beserra Leite tem um gosto especial em mostrar as dependências de um prédio ao lado do Pátio do Colégio, a primeira edificação da cidade de São Paulo. Onze dos 20 andares do prédio pertencem ao Sindeepres, um sindicato cujo nome completo tem 32 palavras, mas é conhecido como Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados. Fundado e presidido por Leite desde 1993, o Sindeepres tem mais de 100 mil associados e representa cerca de meio milhão de trabalhadores no Estado de São Paulo. Apenas com o imposto sindical, uma de suas fontes de renda, sua arrecadação anual é calculada em R$ 5 milhões. Paralelamente à carreira de líder de um dos sindicatos que mais cresceram no país nos últimos anos, Leite construiu também uma bem-sucedida vida empresarial e financeira. Esse lado, Leite procura não exibi-lo.
Fora do ambiente de negociações salariais, ameaças de greve e conversas com políticos e patrões, Leite atua como empresário do setor de turismo. Ele é dono de um hotel e de uma pousada em Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo. Além dessas duas propriedades, Leite tem um patrimônio imobiliário avaliado em, pelo menos, R$ 3 milhões. A coleção de bens é composta de duas casas, dois apartamentos e um terreno em São Paulo e uma casa de veraneio em Ilhabela.
Como a maioria dos sindicalistas, a carreira de Leite começou por baixo. Ele foi assessor de base do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo na região de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Seu trabalho era distribuir panfletos entre os trabalhadores. Pouco depois, Leite deixou o Sindicato dos Metalúrgicos. Aproveitou a tendência da terceirização de mão de obra, na década de 1990, e fundou o Sindeepres.
A história segue a cartilha clássica do sindicalismo brasileiro: ao observar um “novo setor”, Leite criou um sindicato para, em tese, defender esses trabalhadores. Na prática, ele percebeu a oportunidade de criar uma nova categoria de trabalhadores para arrecadar imposto sindical. Como grande parte dos líderes sindicais, Leite se reelege constantemente e se mantém como presidente há 16 anos. “Criar um sindicato é um empreendimento rentável”, afirma Ricardo Antunes, professor do Departamento de Sociologia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp). “Há uma relativa facilidade e há falta de fiscalização. Por isso, existem verdadeiras máquinas de abrir sindicatos.”
Desde que fundou o Sindeepres, a vida de Leite mudou bastante. Ele ainda mora na Zona Sul de São Paulo, mas em uma casa de 480 metros quadrados, avaliada em R$ 500 mil. Além dela, Leite possui um apartamento de alto padrão em Perdizes, bairro de classe média. O apartamento de 440 metros quadrados, com duas suítes e quatro vagas na garagem, foi avaliado em R$ 1,2 milhão. Além dos dois imóveis, Leite possui ainda outro, avaliado em R$ 500 mil em uma das áreas comerciais mais valorizadas de Santo Amaro. Mas, nesse caso, o valor da casa não é tão relevante. O mais valioso é que o imóvel abriga a Protex, uma empresa corretora de seguros que pertence à mulher do sindicalista, Marlene de Souza Leite.
Em Ilhabela, está o mais vistoso patrimônio de Leite. Lá, ele tem sua casa de veraneio, no bairro Cocaia, avaliada em R$ 600 mil. A construção de 400 metros quadrados está em um terreno de 1.600 metros quadrados, com jardim amplo e entrada por duas ruas. Leite também é dono de uma pousada e de um hotel no bairo de Itaquanduba, próximos à Praia do Perequê, uma das mais movimentadas da ilha. Registrada na prefeitura em nome de Leite, a Pousada Maisbella é um prédio de 770 metros quadrados em um terreno de 1.200 metros quadrados. Tem piscina e cobra diárias de R$ 260 a R$ 290. A poucos metros fica o Ilha Plaza Hotel, uma construção de 1.260 metros quadrados, em dois andares. O prédio de tijolos à vista tem suítes de até 75 metros quadrados, com banheira de hidromassagem para casal, cama tamanho king size e varanda. A diária varia de R$ 310 a R$ 490.
O imóvel onde está a Pousada Maisbella está registrado em nome de Leite. Mas, na Junta Comercial, a pousada pertence a Andréia de Souza Leite, sua parente. O Ilha Plaza Hotel foi comprado por Leite em 2004. Em abril deste ano, no entanto, ele se retirou da sociedade e passou as cotas para a mulher, Marlene de Souza Leite. A pousada e o hotel ficam a poucos metros da Praia do Perequê e do badalado centrinho da ilha. O Ilha Plaza Hotel e a Pousada Maisbella dividem parte do quadro de funcionários.
O patrimônio de Leite começou a se tornar público há alguns meses, quando ele começou a enfrentar oposição no sindicato e fora dele. O sindicalista João de Souza Netto foi companheiro de Leite no Sindicato dos Metalúrgicos na década de 1990. Em 2007, ele se tornou seu assessor no Sindeepres, mas os dois romperam em agosto. “Ele me proibiu de entrar no sindicato”, afirma Souza Netto. Leite acusa Souza Netto de ser um dos mentores de um dossiê sobre seu patrimônio.
À polícia, Souza Netto afirma que Leite é o mandante de três atentados contra ele, que ocorreram entre setembro e novembro deste ano. No mês passado, homens em um carro dispararam tiros contra sua casa, na Zona Leste paulistana. As balas furaram o carro, o portão e a janela da casa de Souza Netto. Em dois dos atentados, os homens tentaram atear fogo em seu Gol prata 2001. “Só falta eles explodirem minha casa”, diz Souza Netto. Leite foi procurado por ÉPOCA durante duas semanas para falar sobre seu patrimônio. Ele chegou a marcar uma entrevista, mas cancelou o encontro horas antes do combinado. Sua secretária afirmou que Leite teve de viajar de última hora para Brasília. Ela disse que Leite não poderia falar por telefone sobre o assunto porque estaria muito ocupado durante a viagem.
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