Defesa dos Nardoni não descarta pedir habeas corpus preventivo para evitar nova prisão
Publicada em 28/04/2008 às 18h14mCBN, O Globo Online, O Globo, Bom Dia São Paulo
SÃO PAULO - A defesa de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá já começa a preparar a estratégia para um possível pedido de prisão preventiva do casal, únicos suspeitos da morte da menina Isabella Nardoni. O advogado Ricardo Martins afirmou que não descarta o pedido de um habeas corpus preventivo à Justiça . O recurso, se concedido, impediria que o casal fosse preso novamente em caso de decretação da prisão preventiva. Nesta terça-feira, o inquérito que apura a autoria da morte da menina será entregue à Justiça e a prisão preventiva do casal deve ser pedida.
- Não foi impetrado. Mas esse recurso poderia evitar a preventiva e um eventual constrangimento para eles - afirmou Martins.
O pedido de habeas corpus preventivo não foi impetrado ainda, segundo o advogado Rogério Neres, porque a defesa não foi informada sobre um possível pedido de prisão. Ele disse ainda que a defesa poderá contestar a reconstituição feita neste domingo.
- Tudo o que foi produzido na fase do inquérito, sejam provas periciais ou documentais, pode ser submetido ao crivo contraditório. A defesa pode, através de uma postura técnica e ética, questionar. Isso sem ataques pessoais aos delegados ou ao promotor - disse Neres.
Nesta terça, os advogados foram até o 9º distrito policial, onde o inquérito está sendo conduzido, para ter acesso à parte conclusiva.
O advogado afirmou ainda que assistiu partes da reconstituição do crime, que ocorreu neste domingo, pela televisão. Martins, no entanto, não quis comentar se a defesa agiu corretamente ao optar por não levar Alexandre e Anna Carolina à encenação.
- Não vou te dizer que foi errada ou acertada a decisão. Vou te dizer que nossos clientes têm o direito constitucional de não estarem lá. Dentro do que a lei permite, nós utilizamos a possibilidade de não levá-los - afirmou Martins.
O advogado também não quis comentar uma das informações do laudo da perícia que apontou a presença de vestígios da tela de proteção por onde foi jogada na roupa de Alexandre. Esse seria um indício da participação direta do pai na morte da filha.
- Nós só vamos nos manifestar sobre todas as partes técnicas posteriormente. São partes integrantes dos laudos que foram juntadas no inquérito e cujos laudos nós tivemos acesso apenas na semana que passou. O inquérito policial tem aproximadamente pouco mais de 600 folhas. É um volume bastante considerável e nós estamos estudando tudo isso. Só vamos poder falar sobre isso com mais propriedade posteriormente - disse.
Inquérito deve ser encaminhado à Justiça nesta terça
O inquérito que apura a morte de Isabella Nardoni está sendo concluído e deve ser encaminhado à Justiça até esta terça-feira. A polícia deve pedir a prisão preventiva do pai da menina, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá. A delegada Renata Pontes está finalizando nesta segunda um relatório de 50 páginas que será entreguie à Justiça junto com o inquérito. O casal já foi indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar), triplamente qualificado (motivo torpe, cruel e sem possibilidade d defesa da vítima). O promotor Francisco Cembranelli terá 15 dias para denunciar os dois. Ele já avisou que vai indiciar o pai e a madrasta por homicídio e deve enviar o inquérito à Justiça depois do feriado de 1º de Maio.
Com a reconstituição do crime, neste domingo, os peritos concluíram que a menina caiu 11 minutos depois que a família chegou ao prédio, o que reforça a tese da acusação - de que uma terceira pessoa não teria tido tempo para praticar esse crime. O trabalho reforçou a convicção da perícia, dos policiais e do Ministério Público de que os dois estão diretamente envolvidos no crime na morte de Isabella. O apartamento onde a reconstituição foi feita já está liberado.
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Inquérito que apura a morte de Isabella deve ser encerrado nesta segunda
SÃO PAULO - O inquérito que apura a morte de Isabella Nardoni deve ser encerrado nesta segunda-feira e encaminhado à Justiça até amanhã. A polícia deve pedir a prisão preventiva do pai da menina, Alexandre Nardoni, e da madrasta, Anna Carolina Jatobá. O casal já foi indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar), triplamente qualificado (motivo torpe, cruel e sem possibilidade de defesa da vítima). O promotor Francisco Cembranelli terá 15 dias para denunciar o casal. Ele já avisou que vai indiciar o pai e a madrasta por homicídio.
Com a reconstituição do crime, neste domingo, os peritos concluíram que a menina caiu
11 minutos depois que a família chegou ao prédio, o que reforça a tese da acusação - de que uma terceira pessoa não teria tido tempo para praticar esse crime. O trabalho reforçou a convicção da perícia, dos policiais e do Ministério Público de que os dois estão diretamente envolvidos no crime na morte de Isabella.
A reconstituição da morte de Isabella, atirada pela janela do apartamento do pai, no sexto andar do edifício London, durou mais de sete horas neste domingo. Nem mesmo a escolha da polícia de não jogar pela janela a boneca com tamanho e peso iguais aos de Isabella diminuiu o impacto da cena vista pelas autoridades que acompanharam a encenação.
(veja fotos da reconstituição)
Os peritos tiraram a rede de proteção do quarto de Isabella e a colocaram na janela do quarto dos irmãos, de onde ela foi jogada. O buraco na rede foi feito - ficou bem maior do que o usado pelo assassino - e um dublê simulou a ação do assassino.
O "monstro" que assassinou Isabella teve de olhar para o rosto da menina o tempo todo enquanto segurava suas mãos e se preparava para lançá-la de uma altura de 20 metros, do sexto andar. A boneca foi colocada para fora da janela aos poucos. Inicialmente, seus joelhos dobraram e os pés tocaram o parapeito da janela ainda do lado de dentro. Em seguida, a boneca foi segurada pelas duas mãos e com o rosto virado de frente para o perito. Primeiro foi solta uma das mãos do manequim. Esta mão teria então deixado marcas na parede do prédio, que neste domingo foram assinaladas com fita adesiva pela perícia. Em seguida, a outra mão foi solta.
Mesmo sabendo a cena que iriam ter na simulação do crime, houve comoção entre autoridades e policiais. É possível imaginar o grau de comoção se tivessem jogado a boneca do sexto andar, como foi feito com Isabella. A cena foi descrita como "impressionante" por várias pessoas que a viram.
- Dificil heim... - foi a observação da delegada Seccional Norte, Elizabeth Sato, que acompanhou a cena ao lado do representante do Ministério Público e do delegado que comanda o inquérito, Calixto Calil Filho, do 9º Distrito Policial.
- Foi bem alto de onde ela caiu - disse Calil Filho, enquanto o promotor Francisco Cembranelli balançava a cabeça inconformado.
A Secretaria de Segurança Pública afirmou que a boneca não foi jogada porque trata-se de um manequim forense e pode ter seu peso alterado.Como é cara, será usada outras vezes. Foi encomendado também um boneco de tamanho adulto, que teria sido usado na reconstituição dentro do apartamento do pai de Isabella, mas ele não apareceu em nenhum momento.
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá não compareceram. A lei brasileira prevê que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Mas nem mesmo os advogados de defesa estiveram no local para acompanhar os trabalhos, o que seria comum acontecer.
O
advogado Ricardo Martins, que representa o casal, afirmou que a presença da defesa não alteraria os rumos da reconstituição, pois os advogados teriam de acompanhar sem interferir nos trabalhos. Também o avô paterno de Isabella, Antonio Nardoni, a a tia dela, Cristiane Nardoni, não compareceram. Os dois estão sendo investigados e são suspeitos de alterar a cena do crime.
Alexandre e Anna Carolina podem ter voltado à casa de Antonio Nardoni. Há uma semana eles estavam hospedados na casa do pai de Anna Carolina, em Guarulhos, mas na madrugada de domingo Cristiane esteve lá. Na saída, roupas em cabides, que vedavam as janelas do carro, fizeram surgir a desconfiança que o casal mudou novamente de endereço.
Longa encenação
A simulação da morte de Isabella começou às 9h40m. Sem a presença de Alexandre e Anna Carolina, os peritos tiveram a versão do pai e da madrasta para o crime apenas com base nos depoimentos dos dois. Os dois dizem que alguém entrou no apartamento e atirou Isabella pela janela. Nesta versão, Nardoni diz que levou Isabella até a cama primeiro e voltou ao carro para buscar a mulher e os outros dois filhos, que também dormiam.
O promotor Francisco Cembranelli afirmou que esta era uma versão fantasiosa e os peritos chegaram à conclusão que um assassino desconhecido teria 4 minutos para entrar no apartamento usando uma chave, agredir e asfixiar a menina por 3 minutos, limpar seu rosto, fazer o buraco na rede e atirar pela janela. E teria ainda de ter limpado a cena do crime antes de fugir sem ser visto e sem deixar vestígio.
Na versão da polícia, a história é diferente desde antes de chegar à garagem. Isabella teria sido machucada no carro e a família teria subido junta para o apartamento, onde Anna Carolina esganou a menina e Alexandre a atirou pela janela.
Vizinho fala da reação de Alexandre e Anna Carolina
A encenação sobre os acontecimentos depois da queda de Isabella, quando seu corpo já estava no jardim, foi orientada principalmente por Antonio Lúcio Teixeira. Morador do primeiro andar e testemunha, ele orientou a posição da boneca e deu detalhes sobre a posição das pernas e da cabeça da menina. Chegou a dizer que a boneca não tinha a flexibilidade necessária, pois o corpo parecia grudado à grama. Diante da insistência dos peritos para que prestasse atenção aos detalhes, Teixeira desabafou:
- Estou emocionado e nervoso.
Mesmo assim, deu detalhes de como Alexandre Nardoni chegou direto ao jardim e foi colocar o ouvido no peito da filha para ouvir se o coração ainda batia. Teixeira diz ter perguntado a Alexandre o que havia acontecido e ouvido dele a mesma versão dada à polícia: "Arrombaram meu apartamento, rasgaram a tela de proteção e jogaram a minha filha".
O vizinho contou que Anna Carolina Jatobá chegou depois com um bebê no colo, logo deixado no colo de uma moradora do prédio e que teria passado a falar palavrões e dizer que o prédio era inseguro, "uma porcaria".
Depois disso, a madrasta de Isabella teria se afastado e falado ao celular perto da cerca do prédio, de onde o conteúdo da conversa não pode ser ouvido. Os palavrões que as testemunhas dizem ter sido proferidos por Anna Carolina no térreo do prédio não foram repetidos pela dublê, que não disse sequer uma palavra, apenas ocupou as posições da madrasta de Isabella, indicadas pelas testemunhas, e apontou para o porteiro.
Teixeira contou ainda que Alexandre chegou a pedir ao porteiro que fosse até seu apartamento e que ele mesmo disse que não seria necessário, pois o prédio só tem duas saídas. O resgate e a polícia já haviam sido chamados por ele.
Sem o casal, a polícia usou dublês inclusive para a discussão que vizinhos dizem ter escutado no apartamento. Peritos testaram o som do prédio ao lado, para verificar se era possível ouvir alguma coisa. Até mesmo repórteres que estavam no prédio em frente disseram que podiam ouvir conversas no edifício London.
Apesar do empenho dos peritos, o trabalho de reconstituição foi criticado por peritos. Segundo eles,
a encenação do crime teria de ser feita num sábado à noite, com luminosidade e barulho semelhantes ao do dia da morte de Isabella , e não em um domingo ensolarado e durante o dia. A reconstituição, que começou às 9h40m, foi encerrada quando começou a escurecer, às 17h15m.
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