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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Coisas da Política: O que não enxergamos?


As doses fortes do STF e as sentenças no prelo deixam a sensação de que a justiça foi bem feita. As penas altas fizeram alguns festejar o início de uma nova era. Como figura pública, o ministro Barbosa emerge como novo e intempestivo fator. Passei incólume pela euforia. Talvez porque as narrativas não alcançaram ou discutiram o que realmente importa: a agressão à democracia. Claro, eles não eram malfeitores comuns, as intenções eram as melhores possíveis, fazer prevalecer o que acreditavam ser o melhor para todos. Não compravam deputados, tentaram era calar qualquer voz dissonante. Mas, se eles derem licença, preciso dizer que eu, como muitos, não tenho claro que o isso deles é o melhor. Se bem esclarecida, a maioria também recusaria o “melhor para todos” goela abaixo, e o trocaria por um punhado de liberdade para discordar.
Então, descubro que a incapacidade de vibrar com sentenças judiciárias não decorre só da natureza melancólica e deprimente dos fatos mas de perceber, em todo canto, que a ideologia triunfa sobre ideias, e assim vai inutilizando e desconstruindo o diálogo, a nossa grande chance de sair dessa furada.
Pergunto-me se eles realmente perderam. Talvez aqui paire a grande ilusão, pois, no final das contas, a lógica do mensalão deu certo! Isso porque parte significativa da esquerda prefere se esconder atrás dos justificacionismos a exercer a autocrítica. Se com a direita a tese geral era o pornográfico “benefícios privados, riscos públicos”, a moda agora é “por melhores indicadores sociais, vale a pena até matar”. É a sórdida mistura dessas duas lógicas que triunfa no Brasil contemporâneo, e não só na política.
Por isso, nada espantoso que tenhamos pena de morte de policiais decretada a partir de celulares de presídios de segurança máxima, ações desastradas que tentam estancar a sangria das chacinas diárias entre traficantes, milicianos e organizações criminosas, e o espetacular resultado final: os habitantes das cidades sem saberem a quem recorrer e como se defenderem da ausência de regras. Em caso de dúvida, perguntem ao ministro da Justiça! Lembremo-nos de que muitos réus foram avalizados por votação, e permanecem cultuados nas seitas às quais pertencem. Eles não são vilões solitários, tampouco os autonomeados mártires, como costumam se apresentar.
Será que estamos sendo conservadores? Injustos? Há alguma chance de encarar como justo o que os réus fizeram diante das circunstâncias históricas? Vale breve recapitulação.
Engatinhávamos na democracia e, de joelhos, vimos Tancredo Neves desabar um dia antes da posse. O que nos aconteceu ali? O medo de que toda conquista das diretas, e o direito de escolher nossos representantes fosse, mais uma vez, adiado. Isso até que a Junta Militar decidisse se estávamos ou não maduros para votar. No palitinho, ganhamos um voto de confiança dos generais. E o que fizemos com nossa liberdade? Com a ajuda da mídia elegemos Collor, e com a ajuda da grande mídia corrigimos o equívoco. Em seguida, o intelectual FHC, um benévolo luxo inédito que nos permitimos, depois de longo período de obscuridade. O país avançou, as instituições se fortaleceram, apesar da má vontade da oposição petista da época. E foi esse avanço mais a essencial estabilidade da moeda que permitiu que Lula levasse a eleição seguinte. Triunfo importante para os trabalhadores, novos avanços e surpresa: alguma esperança republicana com a civilizada manutenção das conquistas dos governos anteriores. Mas eis que o candente núcleo político decidiu que precisava da hegemonia, e, inspirado em esquema preexistente, do qual quase todos os outros partidos já haviam se beneficiado, montou o mais ousado e maciço assalto à República de todos os tempos. Aí veio a briga pelo espólio e as denúncias de Jefferson. O governo balançou, e não caiu graças às ameaças de dossiês que, de parte a parte, geraram pânico entre os políticos e seus financiadores. A República, amedrontada, desmontaria. Será?
Aqui é possível afirmar: precisamos enxergar que ainda NÃO vivemos em pleno estado democrático de direito nem gozamos de liberdade ampla geral e irrestrita, já que democracia sem diálogo não passa de ditadura com voto.
Ninguém é 100% em nada, muito menos honesto ou desonesto. Mas há uma linha tabu, que não deve ser ultrapassada: decência e transparência com a coisa pública. E esqueçam arrependimentos: por paixão, ganância e poder, eles fariam tudo de novo, embrulhados na bandeira de uma doutrina anacrônica e rançosa, que já não atende mais às sociedades do mundo. Direita e esquerda falharam, falham e falharão, levando, junto com suas experiências caóticas, centenas de milhões ao buraco e aos divãs.  
Alguém precisa inventar nova direção. Talvez nenhuma!  
Fonte: Jornal do Brasil

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