José Professor Pachêco, advogado e professor. |
Ontem à
tarde (17.05.2012), em passagem pelo acampamento dos professores da Rede
Pública Estadual de Ensino, respondi de súbito, afirmativamente, a essa
pergunta que me foi dirigida. A motivação da pergunta reside no fato de que o
Conselho Diretor do Sindicato publicou nota informando a suspensão da greve,
sem que essa decisão tenha sido aprovada em Assembleia da categoria.
Eis, a
seguir, os fundamentos de minha resposta.
1. A Titularidade do Direito de Greve:
A
titularidade do direito de greve é dos trabalhadores, competindo a eles decidir
sobre a oportunidade e os direitos que serão defendidos (CF, art. 9º; Lei nº
7.783/1989, art. 1º e 2º).
O
direito de greve é, pois, um direito subjetivo. Portanto, irrenunciável. Quando
uma categoria decide pela não deflagração de uma greve iminente ou pela
suspensão de uma greve em curso, o que ocorre é uma abstenção do exercício do
direito de greve naquele momento específico. Mas nunca a renúncia ao direito.
Constituição
Federal:
(...)
Art. 9º É
assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele
defender.
Lei nº 7.783/1989
(Lei de Greve):
Art. 1º É
assegurado o direito de greve, competindo
aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os
interesses que devam por meio dele defender.
Parágrafo
único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei.
Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito
de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de
prestação pessoal de serviços a empregador.
Daí,
correto e oportuno afirmar que o Direito de greve não é do Sindicato, não
pertence a nenhuma entidade de classe, integrando assim o patrimônio jurídico
do próprio trabalhador.
Em
sendo o trabalhador, o verdadeiro titular do direito de greve, a Diretoria do
Sindicato não pode decidir pela deflagração ou suspensão do movimento, um
atributo exclusivo da Assembleia Geral da Categoria. Qualquer decisão nesse
sentido não será juridicamente válida.
2. O Papel da Entidade de Classe no Exercício
do Direito de Greve e a validade da decisão do SINTE – PI:
No
Brasil, em decorrência do Princípio Constitucional da Unicidade, o que os
Sindicatos possuem é o poder-dever de coordenar a greve, quando a respectiva
categoria, reunida em Assembleia, decidir pela sua deflagração.
Reitere-se,
portanto, que no caso dos Sindicatos não há que falar em direito de greve - visto que esse não
é um direito sindical - mas em prerrogativa de coordenar e
operacionalizar a greve, bem como a garantia de representar a categoria no pólo
da relação negocial.
Por não
se tratar de um direito das entidades de classe, merece destacar que o Conselho
Diretor do SINTE-PI não possui poderes para suspender a greve dos professores. Compete
exclusivamente aos próprios professores a suspensão do movimento, devendo
fazê-lo reunidos em Assembleia Geral, convocada para essa finalidade.
Nesse
quadrante, o que se pode deduzir da decisão do Conselho Diretor do SINTE-PI é que
a Entidade renunciou à prerrogativa de coordenar e de operacionalizar a greve,
assim como a garantia de representar os grevistas em negociações futuras, que
ocorram no contexto da greve.
3. O Exercício do Direito de Greve na
Ausência do Sindicato da Categoria:
O
direito brasileiro admite o exercício do direito de greve, sem a presença do
Sindicato da categoria. Isso se encontra consignado expressamente na Lei nº
7.783/89: “Na
falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados
deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão
de negociação”.
E, como
se trata de direito subjetivo, cujo titular é o próprio trabalhador, entenda-se
por “falta
de entidade sindical” não somente a “inexistência”, mas também a “ausência” da
entidade.
Lei
nº 7.783/1989 (Lei de Greve):
(...)
Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente
convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as
reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da
prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá
prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da
deflagração quanto da cessação da greve.
§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia
geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no
"caput", constituindo comissão de negociação.
Art. 5º A entidade sindical ou
comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas
negociações ou na Justiça do Trabalho.
No caso
em questão, o SINTE-PI convocou regularmente Assembleia para fixar a pauta e
deliberar pela deflagração da greve, não tendo havido, entretanto, sua regular
suspensão, uma vez que a Diretoria ou Conselho Deliberativo da Entidade não
possui legitimidade para fazê-lo.
Então,
diante dessas circunstâncias, a greve formalmente continua e os professores do
estado do Piauí poderão, em Assembleia, designar uma Comissão Representativa
(Lei nº 7.783/1989, art. 4º, § 2º supracitado), investindo-a nos poderes de
coordenação do movimento e de representação da categoria em futuras mesas de
negociação, onde se discuta a pauta da greve.
Cumpre
ainda destacar que a Lei, inclusive, confere a essa Comissão outras garantias
como, por exemplo, a legitimidade para arrecadar fundos destinados à
sustentação da greve e operacionalização de suas atividades.
Lei
nº 7.783/1989 (Lei de Greve):
(...)
Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre
outros direitos:
I - o emprego de meios pacíficos tendentes a
persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve;
II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.
4. O Direito
de Greve dos Servidores Públicos:
A Constituição Federal consagrou a
legitimidade do Direito de Greve a todos os trabalhadores. Entretanto, fez a
ressalva de que, no âmbito da Administração Pública, o exercício desse direito
careceria de uma Lei específica a ser instituída posteriormente (CF, art. 37,
VII).
Constituição
Federal:
(...)
(...)
Como o Congresso ainda não legislou a respeito, o
Supremo Tribunal Federal, numa decisão lapidar, reconheceu como legitimo o exercício
do direito de greve dos servidores públicos, quando observados os termos da Lei
nº 7.783/2009, até que lei específica tratando desse assunto venha a ser
votada, sancionada e publicada, conforme previsto na Constituição.
Diante desse posicionamento da STF, os servidores
públicos podem exercer seu direito de greve, desde que observem os dispositivos
da referida Lei de Greve, antes restrita às relações de trabalho privadas.
5. O que fazer no caso em questão:
Respondida
à questão de modo afirmativo, com a demonstração de que é juridicamente possível
o exercício do direito de greve sem a presença de Sindicato, a pergunta que
agora se coloca é: que fazer no caso específico dos professores do estado do Piauí e nas
circunstâncias em que se encontram?
Falando
no campo das probabilidades, entendo que os professores, independente da
vontade e da decisão da Diretoria do SINTE-PI, podem reunir-se em Assembleia
Geral e - verificando em votação majoritária a vontade da categoria de manter a
greve - tomar as seguintes medidas: a) ratificação das decisões tomadas em
Assembleias anteriores, convocadas pelo SINTE-PI, tanto em relação à
deflagração da greve quanto à sua continuidade; b) continuação da greve; e c)
constituição de uma Comissão de Negociação, sem prejuízo de outras decisões de
natureza organizativa e operacional.
Em
seguida, deverão comunicar tais decisões às autoridades (Governador e
Secretário de Educação) e cuidar da divulgação e da mobilização para que a
greve se mantenha com a adesão da categoria, pois antes, e muito longe, de
constituir um imbróglio jurídico, a greve precisa ser um fato incontestável.
Essa é
minha opinião, salvo melhor juízo.
meu Deus se os professores soubessem disso com esses esclarecimentos nenhum dos professores teriam voltado as salas de aulas.
ResponderExcluirNão sabia disso, mas indaguei várias vezes no dia 17, na assembleia, o seguinte: entendo que uma assembleia não pode destituir a presidente do sinte, posto ter sido eleita pelo voto direto, mas do mesmo modo entendo que a mesma não pode determinar um fim de uma greve, no momento em abandona esta, independente das motivações criadas. Quando ela abandonou a categoria, imediamente foram colhidas mais de 500 assinaturas em um livro de ata.Essas assinaturas mais o suporte legal da lei do piso e o que diz a lei 7783/09 podem servir de grande suporte nesse momento? Por outro lado, a base, no meu entender, vai buscar apoio onde? Cadê as lideranças acirradas da assembleia que culminou na fuga, infeliz(mente), da representante do sinte?
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