Na noite de 8 de maio/2004 - véspera do dia das mães, oito adolescentes,
privados de liberdade na cela 01 do Complexo de Defesa da Cidadania, tentaram
simular um incêndio para uma arriscada fuga, a fim de passarem o DIA DAS MÃES em casa. A
iniciativa deles transformou-se numa das maiores tragédias vividas neste
Estado, uma vez que naquele plantão interinstitucional não havia qualquer
extintor de incêndio em condições de uso.
Apenas um adolescente conseguiu sobreviver. W.J.S.S., escapou com graves
lesões nos braços e pernas, porque teve a idéia de tomar banho e proteger-se
com um colchão molhado. Os outros sete adolescentes ficaram próximos à grade,
parte mais afetada pelo fogo, tentando se proteger com colchões secos, gritando
por socorro e aguardando que os quatorze policiais e educadores de plantão,
abrissem a cela.
Nas paredes do banheiro, foram registrados vários escritos produzidos
por atrito de sabonete de cor azul onde se liam nomes, apelidos e algumas
frases, tendo chamado a atenção dos Técnicos da Perícia, as transcritas a
seguir:
“NÃO VOU SORRIR
SEM MOTIVO SERIA FALSO
NÃO VOU CHORAR PORQUE NÃO
TEM LÁGRIMA PRA TANTA DESGRAÇA. TIAU!”
Entre as vítimas fatais, estava meu sobrinho-filho, Mikhayl de Almeida
Freitas (16 anos), apreendido na manhã do dia 8 de maio e levado para morrer no
CDC.
Através dos depoimentos que constam dos autos do inquérito, podemos ter
uma forte visão de uma das maiores tragédias vividas nesse Estado. Cenas
deprimentes de oito adolescentes assados vivos e conscientes dentro de uma cela e,
depois, agonizando, chorando, gritando por socorro, pedindo água, recebendo
jatos de soro em seus corpos, enquanto rolavam pelo chão, nos corredores do
Complexo de “Defesa” da Cidadania; perdendo a pele que ficava pregada no chão.
As vítimas ainda tiveram que caminhar até às ambulâncias, para serem conduzidos
ao Pronto Socorro do Hospital Getúlio Vargas, com exceção de I.L. que se
encontrava em estado gravíssimo, ao ponto de nem conseguir se levantar do
colchão onde dormia.
Os oito adolescentes deram entrada no Hospital Getúlio Vargas por volta
das 21 horas e 15 minutos do dia 8 de maio/2004, apesar de o incêndio ter
ocorrido por volta das 20 h. Os jovens permaneceram internados em enfermarias
coletivas sob os cuidados de enfermeiras plantonistas e de um cirurgião
plástico, que trataram das queimaduras que se encontravam expostas, fazendo
curativos e colocando gaze, a fim de evitar a contaminação da pele que, até
então, se encontrava exposta e sujeita a infecções. Cinco adolescentes morreram
logo. Um outro morreu no dia seguinte. Dos dois sobreviventes, mais um faleceu
na madrugada do dia 12/05 (Véspera do meu aniversário) - MIKHAYL DE ALMEIDA
FREITAS (meu sobrinho-filho), que se encontrava internado na Unidade de Terapia
Intensiva do Hospital São Marcos. Apenas W.J.S.S., conseguiu sobreviver, com
graves sequelas e incapacitado para o trabalho.
O desespero dos adolescentes em tais circunstancias foi marcado pela
ausência dos familiares. Consta nos depoimentos de alguns servidores do Hospital
Getúlio Vargas, que eles pediam insistentemente para que avisassem às suas
mães, o que não foi levado em consideração, provocando-lhes pânico e impedindo
à maioria deles de ver a família em seus últimos instantes de vida. Boa parte
das mães só ficou sabendo da tragédia no dia seguinte, juntamente com a notícia
da morte de seu filho, ou seja, quando foi chamada para identificar o corpo.
VALE REGISTRAR QUE NENHUMA AJUDA OU ACOMPANHAMENTO FOI PRESTADO ÀS
FAMÍLIAS ENLUTADAS, AO CONTRÁRIO DO QUE DIVULGARAM NA ÉPOCA.
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