SÃO PAULO - O relatório da delegada Renata Pontes classifica a morte de Isabella Nardoni, 5, como um ato covarde, que demonstra maldade e desprezo pela vida humana. No documento de 43 páginas, a delegada é categórica ao afirmar que o casal Alexandre Nardoni, 29, e Anna Carolina Jatobá, 4, mentiu de forma dissimulada, desprezando o bom senso de todos , para permanecer impune. O pedido de prisão preventiva é justificado para garantir a ordem pública, impedir a fuga e garantir a aplicação da lei penal. ( veja fotos obtidas com exclusividade pelo Jornal da Globo
)Para a polícia, o casal limpou o apartamento antes mesmo de Isabella ser jogada pela janela. Depois, simulou ter sido vítima de roubo, mentindo a dezenas de pessoas e a mais de 30 policiais. E fez de tudo para esquivar-se da responsabilidade, não participou da reconstituição dos fatos e encontrará daqui para frente, se continuar solto, formas para protelar a aplicação da lei penal.
A versão da polícia, que levou em conta laudo do Instituto de Criminalística, lesões observadas na vítima e depoimentos de testemunhas, é de um crime hediondo.
"A menina foi ansiosa ao encontro do pai, que amava e admirava. Um pai capaz de atirar a filha pela janela de seu apartamento, preocupado em limpar o chão ao invés de socorrê-la e em encenar com sua esposa ao invés de chorar a morte da filha" diz a delegada.
A primeira conclusão é que as agressões começaram no carro da família. Segundo o relatório, Anna Carolina Jatobá feriu Isabella na testa, com um instrumento não identificado. A madrasta segurava esse instrumento com a mão esquerda, virou-se para trás e alcançou o rosto da menina.
A delegada diz que houve sangramento, gotejando sangue no assoalho, atrás do banco do motorista, na lateral esquerda do carrinho do bebê e um esfregaço, uma espécie de borrão, de sangue na parte posterior do banco do motorista. Não foi feito exame de DNA no sangue, porque a quantidade era pequena.
Depois da chegada à garagem do Edifício London, segundo a delegada Renata Pontes, todos subiram juntos ao apartamento. Isabella estava no colo do pai. Alexandre a jogou no chão, diz o relatório, perto do sofá. Nesse local, observou-se maior concentração de sangue, não visível a olho nu, mas identificado graças a reagentes químicos.
Para a delegada, o pescoço de Isabella foi apertado por tempo considerável e de maneira forte, a ponto de a menina sofrer asfixia, pela madrasta.
"Alexandre era um homem inerte e abobalhado diante da fúria de Anna Carolina Jatobá, que asfixiava a pequena Isabella na sua presença", diz ela.
O relatório final sobre o caso menciona o fato de duas pessoas terem ouvido gritos de criança chamando o pai, pouco antes da queda de Isabella. A delegada Renata Pontes afirma que, por causa das lesões, Isabella não podia gritar. Portanto, a voz era do irmão de Isabellla, de 3 anos, que queria que o pai intercedesse, no momento em que a menina estava sendo asfixiada. E completa: sendo assim, se deduz que a pessoa que apertou fortemente o pescoço da vitima foi Anna Carolina Jatobá.
Fralda com resíduo de sangue foi achada na noite do crime
A delegada relata que Isabella sofreu duas fraturas devido a um forte impacto, como ter sido atirada no chão. O sangue foi limpo e, ao que tudo indica, com uma fralda de criança. Na noite dia do crime, a polícia encontrou uma fralda dentro de um balde. Era a única peça já lavada, no meio de outras que estavam no cesto e no chão, sujas. Segundo laudo do Instituto de Criminalística, reagentes químidos identificaram a presença de sangue na fralda.
A delegada não indica o motivo do crime, mas afirma no relatório que há provas robustas de ter sido Alexandre Nardoni quem jogou Isabella pela janela. As principais são as marcas da rede na camiseta de Alexandre e as marcas do chinelo que ele usava que ficaram num lençol. Renata Pontes também diz ter ficado impressionada com a atitude de Alexandre na noite do crime, pois ele tentava convencer a todos de que havia um ladrão no prédio e não demonstrava abatimento pela morte da filha.
Para a polícia, não há dúvidas do descontrole emocional do casal. Em vários depoimentos, há relatos de brigas, principalmente por causa do ciúme que a madrasta tinha de Alexandre e de Isabella. Uma vizinha da família Nardoni disse à policia que Anna Carolina disputava a atenção do marido. Chegava a tirar Isabella do colo do pai para ela própria se sentar no colo dele, mesmo com a menina chorando.
Segundo a investigação, não haveria tempo suficiente para uma terceira pessoa ter cometido o crime. Além disso, as amostras de sangue encaminhadas para exame de DNA apontaram predominância de sangue de membros da família, não havendo vestígios de sangue de uma terceira pessoa. O relatório não esclarece se mais alguém, além de Isabella, se feriu no dia do crime.
Prisão pode antecipar julgamento
O Ministério Público de São Paulo deve pedir a abertura imediata de processo criminal contra Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pelo assassinato de Isabella. O promotor Francisco Cembranelli deverá solicitar a prisão preventiva do casal alegando que os dois poderão ser julgados rapidamente, em um ano e meio, por força da lei, se forem detidos. Se permanecerem em liberdade, poderão ir à júri somente daqui a 5 anos.
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