Em três horas de show, homenagens e apelos,
os sul-africanos mostram, no distrito de Soweto, aquilo
que darão ao planeta nos próximos 31 dias
Os sul-africanos, com toda a sua alegria, adoram festa. Os sul-africanos, por si só, já são uma festa. E nada melhor que uma grande celebração para marcar o início da 19ª Copa do Mundo de futebol, a primeira realizada na África. Nesta quinta-feira, um dia antes de a bola rolar nos gramados, o Orlando Stadium, em Soweto, viu o que o planeta vai ver nos próximos 31 dias: muita alegria! Num show com três horas de duração, repleto de astros da música internacional, a Copa começou prometendo deixar como maior legado a educação e exaltando o líder Nelson Mandela.
Um continente que passou séculos convivendo com os olhares desconfiados do resto do mundo estava em êxtase ao saber que de 11 de junho a 11 de julho o mundo estará com os olhos voltados para ele.
Diante de um público estimado em 36 mil pessoas, o presidente sul-africano, Jacob Zuma, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, abriram as cortinas do espetáculo.
Zuma agradeceu à Fifa por ter escolhido a África do Sul, seis anos atrás, como sede da Copa do Mundo de 2010 e poder dar a quase 50 milhões de pessoas a oportunidade de viver um sonho que talvez fosse impensado para a esmagadora maioria delas.
- Hoje conseguimos provar que a África tem capacidade de organizar um evento de proporção mundial. E peço que todos vocês mostrem esse calor aos visitantes até o dia em que eles forem embora daqui. A África é a sede. A África é o palco. A África é “cool” (legal) !!!
Seguindo o protocolo, os telões do Orlando Stadium exibiram um filme com diversas personalidades do futebol. Entre tantos craques da bola, foi o brasileiro Pelé, tricampeão do mundo, quem encerrou o clipe “Um Gol. Educação Para Todos!” (sendo que, em inglês, a palavra goal também significa "objetivo"). Hora da festa! E sem as vuvuzelas, barradas na porta para que o barulho não atrapalhasse os artistas e suas músicas.
Perguntando “onde está o amor?”, com versos do hit “Where Is The Love?”, o Black Eyed Peas entrou no palco para abrir o show. Na voz de Fergie, a banda norte-americana animou o público com quatro dos seus maiores sucessos: “Pump It Up”, “Meet Me Halfway”, “Boom Boom Pow” e “I Gotta Feeling”.
Depois, foi a vez de Amadou & Mariam, uma dupla de cegos do Mali, com duas músicas. Novamente, uma pausa para outro filme. Novamente, sobre educação. Com a tela dividida em duas, o curta mostrou a caminhada de Mary e Susan do nascimento até os 24 anos. A primeira, sem nenhum acesso aos estudos. A segunda, criada num mundo de livros, apostilas e escolas. O fim das duas não seria difícil de prever e o filme termina com ambas num hospital: Mary, miserável, acaba de perder o seu bebê; Susan era a médica de plantão. “Um Gol. Educação Para Todos!”.
Quando chega a vez de Desmond Tutu. Todo paramentado de Bafana Bafana, o prêmio Nobel da Paz de 1984 roubou a cena. Dançando, cantando, rindo e fazendo rir, o arcebispo parecia não acreditar no que estava acontecendo. Por mais de uma vez ele disse “estou sonhando, alguém pode me acordar?”. E não poupou elogios àquele que é o grande responsável pelo país estar respirando alegria depois de tanto tempo de sofrimento.
- Estamos em Soweto e ele está em Joanesburgo (separados por poucos quilômetros). Mas se a gente gritar ele escuta: “Mandeeeeeela!!!”, “Viva, Madibaaaaaaa!” - ordenou Tutu, o chamando pelo apelido carinho e obviamente atendido por todos.
Sem dúvida nenhuma que Mandela, morador do bairro de Houghton, escutou. Escutou e com certeza se emocionou. Aos 91 anos, o ex-presidente sul-africano e grande ícone pelo fim do apartheid, não foi ao show. Raramente ele faz aparições públicas, mas nesta sexta-feira Madiba irá ao Soccer City para a partida de abertura da Copa, entre África do Sul e México, a partir das 16h (11h pelo horário de Brasília). Antes de se despedir, Desmond Tutu gritou um dos slogans do Mundial.
- Ke Nako !!! (“Chegou a hora”) - despediu-se o arcebispo, chamando mais um clipe.
Na tela, Mandela. Um rápido vídeo mostrou momentos do grande líder: “advogado, boxeador, marido, pai, revolucionário...”. Alguns na platéia foram às lágrimas. Para quem assistia era difícil sequer tentar se colocar no lugar de um sul-africano e entender o que se passava naquele exato momento ou buscar traduzir tal sentimento.
O show seguiu com atrações nacionais e internacionais. Juanes levantou o público com seu ritmo latino, Alicia Keys e John Legend embalaram todos com suas canções, e o somali K´Naan, anunciado pelo ex-jogador brasileiro Sócrates (com um gorrinho cheio de estilo), fez a multidão explodir em bandeiras com o seu “Wavin’ Flag”, um dos hinos desta Copa do Mundo e música que você ainda vai ouvir muito durante os próximos dias.
Chega o gran finale. Cheia de curvas e rebolado, a colombiana Shakira fechou com chave de ouro a cerimônia. E todos se despediram, com fogos de artifício no frio céu de Soweto (eram 10 graus), ao som de mais um tema do Mundial: “Waka Waka (This Time For Africa)”.
Nesta quinta-feira, a África do Sul deu apenas um aperitivo do que está por vir. Na sexta, a bola rola. E até dia 11 de julho o país será de alegria. O continente será um sorriso só.
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