Diretor-geral da Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação critica líderes mundiais e diz
que falta vontade política para resolver o problema da fome no mundo
Um relatório divulgado nesta quarta-feira (14) por vários órgãos das Nações Unidas traçou um alarmante cenário sobre o acesso à comida no mundo e estima que um sexto da humanidade – cerca de 1 bilhão de pessoas – vive lutando contra a fome. Em um ano, o número de famintos cresceu em 100 milhões de pessoas.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a quantidade de pessoas vivendo com fome vinha crescendo há pelo menos dez anos de forma gradual, mas com a crise econômica de 2008 a situação piorou bastante.
“Os líderes mundiais reagiram vigorosamente à crise financeira e econômica e conseguiram mobilizar bilhões de dólares em um período curto de tempo, mas agora precisamos do mesmo tipo de ação para combater a fome e a pobreza”, afirmou o senegalês Jacques Diouf, diretor-geral da FAO.
A entidade relatou que três aspectos fizeram a crise ser ainda mais grave para as pessoas pobres, que tradicionalmente são as mais vulneráveis. O primeiro é escala da crise, que atinge o mundo todo, reduzindo a eficácia de métodos tradicionais de combate, como a desvalorização da moeda, empréstimos e o uso de ajuda oficial. Em segundo lugar, a crise econômica teve seu momento mais agudo logo depois de uma crise alimentar de grandes proporções, que causou instabilidade em diversos países.
Por fim, o último fator agravante é a enorme integração dos países em desenvolvimento, muito maior atualmente do que há 20 anos atrás. De acordo com a FAO, as mudanças no mercado internacional tornam esses países mais vulneráveis e fazem com que os ganhos com exportação e o investimento estrangeiro diminuam, o que reduz a oferta de emprego e a quantidade de dinheiro disponível para programas sociais.
Segundo a FAO, após a crise de fome da década de 1970, os anos 1980 e o início dos anos 90 registraram grande melhora no problema, já que a prosperidade fez o preço dos alimentos cair e aumentou a ajuda oficial a agricultura nos países pobres. O cenário, entretanto, foi revertido especialmente entre 1995 e 1997 e 2004 e 2006, períodos em que o mundo viveu grandes crises econômicas, o que mostra a fragilidade do sistema de segurança alimentar global.
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“O aumento no número de pessoas famintas é intolerável. Temos os meios técnicos e econômicos para fazer a fome desaparecer, o que falta é a vontade política para fazer isso”, disse Diouf. “Investir em agricultura nos países em desenvolvimento é fundamental já que uma agricultura saudável é essencial não só para superar a fome a pobreza mas também para garantir crescimento econômico e paz e estabilidade para o mundo”, afirmou.
As estimativas são de que a Ásia e os países do Pacífico têm a maior quantidade de famintos, cerca de 642 milhões de pessoas, o equivalente a metade da população da Índia. A África sub-Saariana tem 265 milhões de pessoas com fome crônica, seguida por América Latina e Caribe, com 53 milhões; Oriente Médio e norte da África, com 42 milhões; e os países desenvolvidos, com 15 milhões.
A FAO elaborou um ranking de acordo com o grau de severidade da fome nos países e o Brasil aparece na lista classificado como de “baixo risco”, ao lado de países como Argentina, Chile, Uruguai, Rússia e vários outros da Europa Oriental, como Ucrânia e Hungria. No alto do ranking – classificados como países de risco extremamente alarmante – aparecem a República Democrática do Congo, Burundi, Eritréia, Serra Leoa, Chade e Etiópia. Não há dados para a Somalia, Iraque, Afeganistão, Butão, Iêmen e Papua Nova Guiné.
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