ROMA e ÁQUILA - A promotoria de Áquila abriu uma investigação por "desastre culposo" e pediu à prefeitura da cidade, a mais afetada pelo terremoto que sacudiu o centro da Itália no último dia 6, todos os projetos de construção de casas dos últimos anos, informou nesta sexta-feira o prefeito Massimo Cialente. Segundo um dos engenheiros da Defesa Civil italiana, Paolo Clemente, o cimento usado na construção de alguns edifícios da cidade não era de boa qualidade. Além disso, Clemente disse desconfiar que alguns "maus empreiteiros usam areia de praia, que custa muito menos", destacando que "além das impurezas, trata-se de uma areia cheia de cloretos, que com o passar do tempo corroem o ferro" das estruturas.
- Não sabemos explicar como algumas casas desabaram e outras não. São casas que, a princípio, não deveriam ter desmoronado. Assim, precisamos saber se foram mal construídas - justificou Cialente.
Ainda nesta sexta, o promotor-geral de Áquila, Alfredo Rossini, indicou à imprensa local que serão investigados os materiais e métodos usados na construção dos edifícios da cidade depois que estes caíram "facilmente" depois do terremoto. Entre os prédios que serão submetidos à perícia estão um colégio, o tribunal da localidade e o Hospital San Salvador.
- Investigaremos edifícios construídos com areia - disse Rossini ao jornal "La Reppublica".
A cidade italiana de Áquila promoveu nesta sexta-feira os funerais das quase três centenas de vítimas mortais do terremoto. Segundo o último balanço divulgado pelas autoridades locais, 290 pessoas morreram na região, entre eles 20 crianças. Na noite de quinta-feira, novos abalos sacudiram as áreas mais atingidas , dificultando ainda mais os trabahos de resgate, que devem prosseguir até domingo.
Os funerais começaram às 11h locais (6h de Brasília), mas já nas primeiras horas da manhã desta sexta milhares de familiares das vítimas chegavam à região de Abruzzo para participar da cerimónia celebrada pelo número dois do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone. Mais de 100 caixões foram dispostos um ao lado do outro, uma imagem triste da dimensão da tragédia que atingiu o país (Vídeo: um passeio por Áquila antes da tragédia) .
Quatro dias depois do sismo, o trabalho das equipes de resgate continua, mas a esperança de encontrar sobreviventes entre os escombros é praticamente nula (Brasileiro que vive na Itália quer voltar com medo de morrer soterrado) .
- As operações de busca prosseguem, pois há ainda várias pessoas desaparecidas. Os trabalhos deverão continuar pelo menos até domingo, até encontrarmos todos os desaparecidos - disse um bombeiro.
A prioridade do governo italiano, agora, é dar assistência aos mais de 1.500 feridos, uma centena dos quais se encontra em estado grave, e aos milhares de desabrigados. Segundo as autoridades, 28 mil pessoas ficaram sem casa. Mais de metade foi alojada provisoriamente em tendas, onde são falta comida, água potável e saneamento básico (Sobreviventes tentam esquecer tragédia) .
Só na quinta-feira, registaram-se dezenas de novas réplicas - uma delas de 3,7 graus de magnitude na escala Richter - que vão dificultar a reconstrução dos mais de 10 mil edifícios destruídos. Na noite anterior fora registrado outro movimento telúrico, por volta das 21h30 locais (16h30m de Brasília), de 4,9 graus, que também foi sentido em Roma. E o prognóstico é dos piores. Segundo especialistas, as réplicas poderão ainda se prolongar durante quatro a cinco meses (Veja imagens de monumentos históricos danificados pelos tremores) .
O tribunal de Áquila abriu na quinta-feira uma investigação para apurar as responsabilidades na tragédia. O reforço do controle sobre a aplicação das regras anti-sismicas tinha sido aprovado após um terremoto em 2005, mas a entrada em vigor da medida foi adiada para 2010 pelo governo Berlusconi.
De visita à região, o presidente italiano apontou pela primeira vez os culpados pela tragédia. Segundo ele, "todos os que não respeitaram as regras anti-sísmicas na construção de casas".
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