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quinta-feira, 30 de abril de 2020

Coronavírus: Brasil é o sexto país do mundo com maior média de óbitos por dia

Número de mortes cresce a poucas semanas do pico da pandemia; nas outras nações, casos já chegaram ao auge e a quantidade de vítimas fatais está caindo

Pacientes com Covid-19 na UTI do Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo Foto: Edilson Dantas/1-4-2020
Apesar de estar longe de alcançar oficialmente o número de óbitos das nações mais vitimadas pelo coronavírus, o Brasil já registra a sexta maior média diária de mortes. Segundo cálculo feito pelo jornal Financial Times nos últimos sete dias, a curva ascendente de fatalidades registradas por dia colocou o Brasil na sexta posição do ranking internacional, mesmo sem ter atingido o pico da pandemia. Enquanto isso, os cinco primeiros colocados — EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França — têm curvas descendentes de vítimas fatais, indicando que já atingiram o auge de casos.

O Brasil confirmou 5.466 óbitos por coronavírus até esta quarta-feira — é o nono com maior número de mortes. Estima-se que o registro de ocorrências da Covid-19 no país atingirá o pico na segunda quinzena de maio. A quantidade de casos, porém, gera controvérsia.

A mortalidade por coronavírus

Número de óbitos nos últimos sete dias caiu nos EUA e em países europeus, mas avança no Brasil
Dias desde que a média de mortes por dia passou de 3 - Fonte: Financial Times
Para o físico italiano Stefano de Leo, autor de uma análise da Unicamp sobre os dados da Covid-19 na Europa e na América do Sul, o Brasil registrará aproximadamente 18 mil mortos pelo coronavírus até o final da pandemia. Mas, se o país afrouxar ou não melhorar as medidas de prevenção necessárias, o número de óbitos pode chegar a 120 mil.

Enterro de Joaquim Carlos do Socorro, de 66 anos, em cemitério público na Zona Leste de SP Foto: Filipe Redondo / Agência O Globo
 "A Itália conviveu por semanas com todos os estabelecimentos abertos mesmo nas semanas iniciais da pandemia. Foi um xeque-mate no sistema sanitário. Já o Brasil começou a fechar tudo, buscou testes para diagnóstico e adotou medidas de isolamento social assim que apareceram os primeiros casos", destaca. "É um caminho semelhante ao visto na Alemanha, e por isso o número de óbitos deve se restringir a 18 mil. Mas, se as medidas de controle da pandemia forem relaxadas, então nossa situação será mais parecida com a da Itália, e poderemos chegar a 120 mil vítimas fatais."

Stefano de Leo recomenda cuidado ao comparar os números da pandemia brasileira com as estatísticas registradas em outros países.

"Uma coisa é ver 5 mil óbitos em um país como o Brasil, que tem 209 milhões de habitantes. Outra é contar com o mesmo número de mortes na Espanha, cuja população é de 47 milhões de pessoas. O número de casos pode ser o mesmo, mas a evolução da doença é diferente", explica.
Paciente é levada para hospital em Fortaleza Foto: Mateus Dantas / Zimel Press
Para o físico, as duas próximas semanas serão “determinantes” para entender a evolução do coronavírus no Brasil, devido à previsão de que os registros da Covid-19 devem aumentar rapidamente. Além disso, o país aproxima-se de um período em que há mais casos de doenças respiratórias, como a asma e a gripe, que podem enfraquecer o sistema imunológico. É, como define, um momento de ficar “atento, mas não assustado”.
Professora do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Cybis assinala que os países europeus, que já atingiram o pico da epidemia, investiram em políticas mais “efetivas” contra o coronavírus do que o Brasil.
Pessoas com sintomas da Covid-19 aguardam em fila para atendimento no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto (na Zona Centro-Sul de Manaus) Foto: Raphael Alves / Agência O Globo
"A principal medida tomada neste momento pelo Brasil para controlar a epidemia é a quarentena, mas ela não tem sido suficiente para reduzir os casos de Covid-19", alerta. "Outros países tomaram medidas de contenção mais efetivas. Nosso grande desafio é lidar com um ambiente tão heterogêneo. No Sul, por exemplo, o coronavírus está sob controle. No Amazonas, o cenário é totalmente diferente. Então, as ações contra a pandemia devem levar em conta a realidade local, mas não podem se restringir a ela. Não adianta controlar o coronavírus em uma região se a vizinha ainda está doente."
Apesar das curvas descendentes de óbitos em EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França, Gabriela considera que estes países ainda não estão livres da Covid-19.

"O Brasil segue um tempo diferente porque a pandemia começou aqui depois destes países, então é natural que os casos estejam caindo lá antes do que aqui. Mas nenhuma nação pode dizer que  controlou sozinha o coronavírus."

Renato Grandelle

Fonte:https://epoca.globo.com/coronavirus-brasil-o-sexto-pais-do-mundo-com-maior-media-de-obitos-por-dia-24401846



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