Número de mortes cresce a poucas semanas do pico da pandemia; nas outras nações, casos já chegaram ao auge e a quantidade de vítimas fatais está caindo
Pacientes com Covid-19 na UTI do Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo Foto: Edilson Dantas/1-4-2020 |
Apesar de estar longe de alcançar oficialmente o número de óbitos das nações mais vitimadas pelo coronavírus, o Brasil
já registra a sexta maior média diária de mortes. Segundo cálculo feito
pelo jornal Financial Times nos últimos sete dias, a curva ascendente
de fatalidades registradas por dia colocou o Brasil na sexta posição do
ranking internacional, mesmo sem ter atingido o pico da pandemia.
Enquanto isso, os cinco primeiros colocados — EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França — têm curvas descendentes de vítimas fatais, indicando que já atingiram o auge de casos.
O Brasil confirmou 5.466 óbitos por coronavírus até esta quarta-feira
— é o nono com maior número de mortes. Estima-se que o registro de
ocorrências da Covid-19 no país atingirá o pico na segunda quinzena de
maio. A quantidade de casos, porém, gera controvérsia.
Dias desde que a média de mortes por dia passou de 3 - Fonte: Financial Times |
Para o físico italiano Stefano de Leo, autor de uma análise da Unicamp
sobre os dados da Covid-19 na Europa e na América do Sul, o Brasil
registrará aproximadamente 18 mil mortos pelo coronavírus até o final da
pandemia. Mas, se o país afrouxar ou não melhorar as medidas de
prevenção necessárias, o número de óbitos pode chegar a 120 mil.
Enterro de Joaquim Carlos do Socorro, de 66 anos, em cemitério público na Zona Leste de SP Foto: Filipe Redondo / Agência O Globo |
"A Itália conviveu por semanas com todos os estabelecimentos abertos
mesmo nas semanas iniciais da pandemia. Foi um xeque-mate no sistema
sanitário. Já o Brasil começou a fechar tudo, buscou testes para
diagnóstico e adotou medidas de isolamento social assim que apareceram
os primeiros casos", destaca. "É um caminho semelhante ao visto na
Alemanha, e por isso o número de óbitos deve se restringir a 18 mil.
Mas, se as medidas de controle da pandemia forem relaxadas, então nossa
situação será mais parecida com a da Itália, e poderemos chegar a 120
mil vítimas fatais."
Stefano de Leo recomenda cuidado ao comparar os números da pandemia brasileira com as estatísticas registradas em outros países.
"Uma coisa é ver 5 mil óbitos em um país como o Brasil, que tem 209
milhões de habitantes. Outra é contar com o mesmo número de mortes na
Espanha, cuja população é de 47 milhões de pessoas. O número de casos
pode ser o mesmo, mas a evolução da doença é diferente", explica.
Paciente é levada para hospital em Fortaleza Foto: Mateus Dantas / Zimel Press |
Para o físico, as duas próximas semanas serão “determinantes” para
entender a evolução do coronavírus no Brasil, devido à previsão de que
os registros da Covid-19 devem aumentar rapidamente. Além disso, o país
aproxima-se de um período em que há mais casos de doenças respiratórias,
como a asma e a gripe, que podem enfraquecer o sistema imunológico. É,
como define, um momento de ficar “atento, mas não assustado”.
Professora do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gabriela Cybis assinala que os
países europeus, que já atingiram o pico da epidemia, investiram em
políticas mais “efetivas” contra o coronavírus do que o Brasil.
Pessoas com sintomas da Covid-19 aguardam em fila para atendimento no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto (na Zona Centro-Sul de Manaus) Foto: Raphael Alves / Agência O Globo |
"A principal medida tomada neste momento pelo Brasil para controlar a
epidemia é a quarentena, mas ela não tem sido suficiente para reduzir os
casos de Covid-19", alerta. "Outros países tomaram medidas de contenção
mais efetivas. Nosso grande desafio é lidar com um ambiente tão
heterogêneo. No Sul, por exemplo, o coronavírus está sob controle. No
Amazonas, o cenário é totalmente diferente. Então, as ações contra a
pandemia devem levar em conta a realidade local, mas não podem se
restringir a ela. Não adianta controlar o coronavírus em uma região se a
vizinha ainda está doente."
Apesar
das curvas descendentes de óbitos em EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e
França, Gabriela considera que estes países ainda não estão livres da
Covid-19.
"O Brasil segue um tempo diferente porque a pandemia
começou aqui depois destes países, então é natural que os casos estejam
caindo lá antes do que aqui. Mas nenhuma nação pode dizer que controlou
sozinha o coronavírus."
Renato Grandelle
Fonte:https://epoca.globo.com/coronavirus-brasil-o-sexto-pais-do-mundo-com-maior-media-de-obitos-por-dia-24401846