Especialistas criticam modelo brasileiro e dizem que país não tem estrutura eficiente capaz de detectar culpados pelos crimes.
Além do alto número de assassinatos, a impunidade é um dos problemas que mais chamam atenção no Brasil. De acordo com as estimativas, nove em cada dez crimes desse tipo ficam sem solução, ou seja, nove assassinos continuam na rua sem qualquer punição.
Falta interesse em investigar, falta gente para investigar, falta colaboração entre as polícias. Para a população, fica a sensação de impunidade. Para quem perdeu um parente, fica uma dor ainda maior por não ver o culpado punido.
De acordo com o estudo da ONU, o melhor índice de condenações por homicídios está na Europa. Lá, 81% dos assassinos acabam presos e condenados. Na Ásia, o índice é de 48%.
Nas Américas o percentual cai pra apenas 24%. No Brasil não há uma estatística. A estimativa é que nem 10% dos assassinos acabam identificados, presos e condenados.
O sociólogo Julio Jocobo elaborou o mapa da violência no Brasil em 2013. “Não temos uma estrutura eficiente capaz de detectar quem foi o culpado. Temos um sistema que só trabalha quando dá um flagrante. Quando há um flagrante a pessoa é presa”, explica.
“A gente não consegue investigar, e não pela deficiente de uma ou outra instituição. O modelo em si reforça antagonismos, faz com que as polícias briguem entre si. A Militar, a Civil, as técnicas”, ressalta Renato Soares e Lima, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Investigação é o que Neuza de Fátima Melo acha que faltou, no caso do assassinato do filho dela. “Não teve polícia. A gente não conversou com polícia nenhuma. Deixa a gente mais angustiada por não saber quem fez isso”, lamenta.
Welinton foi morto em dezembro de 2012. O corpo foi encontrado na beira de uma rodovia. Até hoje ninguém foi preso. “A gente tem esperança. O meu marido sempre fala: ‘Já pensou se é uma pessoa que a gente conhece’”, conta.
Essa falta de condenações, em uma cidade como São Paulo, que teve em 2013, 1.220 homicídios, quer dizer que centenas de assassinos vivem livres, sem nunca ter pagado pelos crimes que cometeram, e tem efeitos terríveis na sociedade.
“A população se sente insegura, os criminosos que não são punidos acabam voltando para atividade criminosa. Mais do que pensar em uma solução de curto prazo, temos que pensar em iniciar um processo de mudança e modernização da segurança pública. A gente sempre adia a solução, e na prática precisamos começar desde já a enfrentar nossos dilemas”, afirma Soares e Lima.
Jovens entre 15 e 29 anos, negros ou pardos e de baixa renda são maioria entre as vítimas de homicídio. Em nota a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Social informou que, em 2012, o governo lançou o Plano Juventude Viva, de prevenção à violência contra a juventude negra. O objetivo é melhorar as condições em locais mais perigosos, com ações de inclusão social e combate ao racismo, entre outras.
Fonte: g1.globo.com
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