A advogada Marília Ferreira protestou contra a ajuda aos condenados no mensalão |
A Juventude do PT no Plano Piloto, que organizou um jantar na noite desta quinta-feira para arrecadar dinheiro para o pagamento das multas dos condenados do partido no julgamento do mensalão, conseguiu reunir 150 militantes em uma galeteria de Brasília. Apesar de não informar o valor angariado com as entradas, que custaram de R$ 100 a R$ 1 mil, os organizadores do encontro garantem que o resultado foi acima do esperado.
"A procura foi muito grande. Tivemos gente de outros Estados querendo saber se poderiam vir ou se faríamos esses encontros fora de Brasília", disse Pedro Henrichs, da direção da Juventude do PT. Ele ainda informou que o custo de cada convidado foi de R$ 46, o que deve gerar um bom lucro para os mensaleiros.
Os beneficados pela vaquinha do PT serão o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do partido José Genoino, o deputado federal João Paulo Cunha e o ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares. Somadas, as multas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos condenados petistas ultrapassa R$ 1,8 milhão.
A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) chegou a aparecer no evento e fez a fala de abertura do debate sobre o processo do mensalão, que começou pouco após o jantar. No entanto, até as 21h, nenhum petista graúdo havia comparecido ao local, apesar de os militantes estarem aguardando a presença do ex-presidente do partido Ricardo Berzoini. Entre o baixo clero, a aposentada Cléo Malta, que contribuiu com R$ 200, parecia não saber exatamente o destino do dinheiro.
"Acho importante esse trabalho social do PT. Comprei esse ingresso porque confio no que o partido faz", disse. Questionada se concordava com a contribuição para o pagamento das multas, Cléo fez cara de surpresa e disse que preferia não comentar.
Mas também houve quem não concordasse com o objetivo do encontro. Segurando uma folha de papel com críticas aos mensaleiros, a advogada Marília Gabriela Ferreira fez um protesto solitário na porta do restaurante. "Moro aqui perto e achei um absurdo isso. Acredito que quem ajuda bandido também concorre com o crime. Vim como cidadã protestar porque essas pessoas foram condenadas e parece que não fizeram nada de errado", desabafou.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro meses de trabalho, os ministros do STF encerraram o julgamento do mensalão. Dos 37 réus, 25 foram condenados, entre eles Marcos Valério (40 anos e 2 meses), José Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6 anos e 11 meses) e Delúbio Soares (8 anos e 11 meses).
A Suprema Corte ainda precisa publicar o acórdão do processo e julgar os recursos que devem ser impetrados pelas defesas dos réus. Só depois de transitado em julgado os condenados devem ser presos.
Fonte: noticias.terra.com.br