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sexta-feira, 22 de abril de 2011

O debate que divide

O Piauí vive dias conturbados. A situação econômica/financeira/fiscal não dá sossego aos agentes públicos da área, ao ponto do governador dizer que a situação é insustentável. Greves, reclamações, protestos em frente ao Karnak tem sido a rotina. Numa situação como essa é evidente que a classe política deveria estar queimando pestanas e neurônios em busca de soluções, já que não dá, simplesmente, para fechar o Estado para balanço. E tem alguns que, cientes da situação e efetivamente preocupados com o futuro dessa geração, assim o faz. Mas outros...
Durante a semana, o governador Wilson Martins precisou chamar atenção de aliados, como o professor faz com alunos alheios ao que está acontecendo na sala de aula. É que, em meio a tudo isso, tem gente que só pensa naquilo: em eleição. O circo está pegando fogo e ao invés de se preocuparem em encontrar uma mangueira, jogam gasolina. É uma estratégia que deu certo no passado recente com os mesmos diretores e atores, mas em papéis diferentes. O atual diretor, diferentemente do ex, prefere enfrentar os problemas a escondê-los sob o manto de uma discussão estéril.
Estamos falando de eleição. Aqui no nosso Piauí velho de guerra, esse é um tema que sempre chama a atenção. Passada uma, imediatamente a seguinte ganha espaço nas discussões. É um dos esportes preferidos do povo: ao invés de falar do vizinho, fala de política e dos políticos. O que é até bom, pois dá a impressão de que todos somos autoridades no assunto e, portanto, votamos bem. Mas será que a classe política deveria se dar a esse desfrute?
Debate político
Essa é mais uma diferença marcante entre o ex e o atual governador. A antecipação do debate político virou política de governo depois de 2008 e hoje todos sabemos por que. Durante quase dois anos, o governador de então se utilizou desse debate para escamotear a realidade e esconder seus erros. Perdido em meio a uma administração desastrosa, sem saber o que fazer para salvar o projeto, fez o que lhe pareceu mais fácil: começou a falar de eleição e escalou seus cães de guarda para latirem bem alto, abafando qualquer manifestação de insatisfação.
Chegou a inventar uma espécie de prévia para escolher o sucessor. Aliás, teve o privilégio de estabelecer uma conexão direta com Deus, tal como os profetas bíblicos. E assim, enquanto o povo nas ruas, pautados pela imprensa teleguiada, se dava ao luxo de passar dois anos discutindo quem seria o escolhido do homem que dialogava diretamente com Deus, sem intermediários, os assuntos que realmente interessavam e que tinham a ver com a satisfação do povo, ficavam no limbo, limitados ao conhecimento de poucos que guardavam como segredo.
Essa marcha da insensatez contaminou todo mundo. Até porque discutir política é bom mesmo. E no Piauí, em particular, onde qualquer vereador é pop, então é que o negócio extrapolou. Nas tevês, não se falava de outra coisa. Quem não lembra do processo de afastamento do ex-prefeito Sílvio Mendes? Parecia telenovela. Uns diziam que ele não se afastaria; outros apostavam que teria a coragem de abandonar quase três anos de comodidade na prefeitura em nome de uma aventura de resultado duvidoso. Outros acreditavam piamente que ele sairia e teria o apoio do sucessor Elmano Férrer na campanha. Enfim, foram dias agitados.
Mas nada obteve mais sucesso de público do que a definição do nome que teria o apoio do então governador. Se a Janete Clair viva fosse, não teria escrevido nada nem parecido. Essa questão, de fato, mobilizou e sensibilizou a todos. De Cajueiro da Praia a Cristalândia e de Floriano a Marcolândia, não se falava de outra coisa. A luta das tevês era para ter o privilégio de convencer o diretor a entregar o final com exclusividade. Foram dias de angústia. Nos bares, muita cerveja foi apostada. Mas não parou por aí. Depois que a novela acabou, ainda teve o filme do João Vicente. Seria candidato ou não? Romperia com o indicado e se debandaria para a oposição? E seu João Claudino?
E ainda tinha o núcleo do Senado, que atraía quase tanta atenção quanto o dos protagonistas ao Karnak. E, imagine, ainda sobrava tempo para shows, como o de São João, bela cidade do sudeste do Estado que, de repente, segundo a comunicação oficial, se transformara num mega produtor de uvas, para adocicar a história. Nunca antes na história daquela terra, nem no auge do poder dos Paes Landim, se viu tanto forasteiro e avião. Um mimo do governador da época para sua esposa. Que custou caro. Para nós, que pagamos a farra.
Caos
Pois enquanto tudo isso tomava conta do imaginário popular, nos bastidores, longe das câmaras, o mundo real desabava. Mas tudo restrito a um pequeno círculo. De quando em vez, um ator marginalizado se revoltava e vinha a público manifestar sua insatisfação. Como casal em separação litigiosa. Aí, em breves segundos, aparecia qualquer idéia de anormalidade. Mas logo tudo era esquecido em nome da trama principal.
Somente depois que a novela acabou, em 30 de outubro de 2010, com o povo satisfeito, depois de ter escolhido, por votação, o vencedor do big brother, desligados os aparelhos de TV, a dura realidade foi desnudada. Obras paradas, contratos suspeitos, saúde doente, educação deseducada, falta de dinheiro. As medidas drásticas tomadas logo depois para garantir um mínimo de governabilidade foram um choque de realismo. Mas ainda assim, muitos ainda estão, até hoje, como que plugados naquele enredo.
Pois bem. Hoje, como disse, o mesmo diretor quer um making da mesmíssima novela. Só que, agora, não está com a caneta na mão e os interesses são outros. Seu sucessor não concorda. Acha que tem que escrever seu próprio roteiro e, por isso, não deseja a repetição do enredo. E é ele que tem os meios para garantir que a história não seja repetida. Ora, se assim for feito, o diretor passado vai tomar conta da cena. Agora, não para esconder os problemas e sim para esconder o novo diretor, seu sucessor.
Nesse momento os interesses de Wellington Dias e Wilson Martins são distintos. Se a antecipação do debate eleitoral prosperar, o governo ficará em segundo plano. Só que ao governador isso não interessa. Ele quer que o público volte todas as atenções para suas ações. Quer escrever sua própria história. E para o Piauí isso é bom. Mesmo estando enredado na armadilha criada pelo antecessor, tem dado mostras de que quer se libertar. Os problemas que tem aparecido - e não são poucos-, tem enfrentado de frente, sem medo de errar. Não está jogando sob o tapete. Nem sempre está certo, mas se está pecando, é por ação.
Diário do Povo do Piauí - Edição Eletrônica - Colunas - Mário Rogério

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