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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Governo federal anuncia reajuste de 7,86% a professores

O Ministério da Educação definiu hoje o reajuste para o piso salarial dos professores: 7,86%. Com o índice, professores da rede pública de ensino devem receber no próximo ano, por uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, pelo menos R$ 1.024,67 - R$ 255,05 a mais do que o salário médio do brasileiro em outubro. O valor foi anunciado hoje pelo o ministro da Educação, Fernando Haddad, depois de uma consulta à Advocacia Geral da União (AGU) sobre como fazer o cálculo do aumento.

A lei que institui o salário mínimo da categoria, de 2008, afirma que o piso deve acompanhar o reajuste do valor custo-aluno do Fundeb. A dúvida era se tal regra deveria ser aplicada sobre o valor projetado para 2010 ou o efetivamente aplicado em 2009 - comparado com 2008. A AGU considerou mais adequada a segunda alternativa. Se as contas fossem feitas com o valor projetado do custo-aluno, o salário mínimo da categoria seria de R$ 1.415,97.
O ministro, no entanto, alertou que a decisão da AGU não é vinculante e, por isso, é passível de contestação na Justiça. Embora o desfecho tenha apontado pelo menor índice de reajuste, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CMN), Paulo Ziulkoski, afirma que boa parte das prefeituras terá dificuldade em arcar com novos custos, principalmente em 2010, quando municípios terão de obedecer o piso definido pela lei.
Ao anunciar os dados, porém, Haddad garantiu que Estados e municípios teriam condições de arcar com o reajuste. Ele listou três fatores como justificativa. O primeiro seria o aporte adicional de R$ 1 bilhão do governo federal para Estados e municípios, resultado do aumento dos repasses para merenda e transporte escolar. "O valor representa 2,5 mais do que havia sido solicitado por governadores e prefeitos", disse o ministro.
A segunda razão apontada foi o aumento das transferências da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) de R$ 5,07 bilhões em 2009 para R$ 7 bilhões em 2010. "Com essas alterações, o reajuste de 7,86% é suportável", avaliou. Outro motivo para Estados e municípios honrarem os compromissos seriam as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, que indicam crescimento de 5% na arrecadação.
Quando a lei do piso salarial foi aprovada, cerca de 37% dos professores recebiam menos do que o fixado na época, afirmou o ministro. O restante, ganhava por mês quantia equivalente ou superior ao que havia sido definido pela lei. Atualmente, não há estimativas de quantos municípios ainda não conseguiram pagar o valor completo.
Um estudo do Ministério da Educação feito neste semestre mostra que o salário médio de professores do País era de R$ 1.527 em 2008, quase R$ 600 a mais do que a média nacional. Em 16 Estados brasileiros o salário do professor era ainda inferior à média nacional.

Menino com agulhas tem lesão no coração

O garoto ainda tem nove agulhas espalhadas
pelo corpo, mas elas não trazem risco imediato e podem
ser retiradas nos próximos meses. A que já tinha sido
retirada do coração deixou sequelas.
O menino de 2 anos que teve agulhas enfiadas no corpo terá que ser acompanhado por 5 anos, porque teve uma lesão no coração. Ele se recupera bem da terceira cirurgia a que foi submetido, em Salvador.
A criança está internada na UTI pediátrica do hospital. Os médicos levaram mais de duas horas para retirar as quatro agulhas.
A primeira estava na região da medula, bem perto da 7ª vértebra, e poderia provocar paralisia. Mas com o auxílio de um microscópio foi retirada sem dificuldade.

Outras duas agulhas estavam na clavícula esquerda. Uma teve quer ser quebrada porque se fosse retirada inteira poderia atingir nervos e artérias importantes. A quarta agulha estava debaixo da axila esquerda.

“Não foi fácil. É um trabalho de paciência e tecnologia”, disse o cirurgião vascular Ronald Fidelis.

O menino se recupera muito bem da terceira cirurgia, dizem os médicos. Ele conversa muito com a mãe e até já está brincando com um boneco que ganhou de presente. Mas o garoto só deve receber alta dentro de duas semanas.

O garoto ainda tem nove agulhas espalhadas pelo corpo, mas elas não trazem risco imediato e podem ser retiradas nos próximos meses. A que já tinha sido retirada do coração deixou sequelas. A criança terá que receber acompanhamento de cardiologistas pelo menos nos próximos 5 anos.
"Uma das agulhas que penetrou o coração, ela também lesou a válvula mitral. Então essa válvula foi reparada, foi feita uma correção e com isso ela precisa fazer os controles", disse Roque Aras.

Para a mãe, a recuperação do filho é quase um milagre.

“Para mim, está sendo um sonho, meu filho está bem recuperado. Só espero o melhor, porque o mais difícil foi o que passou pra trás”, disse a mãe do menino, Maria Souza Santos.

Deputado flagrado com dinheiro na meia volta à presidência da Câmara Legislativa

Vídeo mostra Leonardo Prudente recebendo dinheiro em gabinete.
Caberá a ele instalar CPI e analisar pedido de impeachment de Arruda.

A volta do deputado distrital Leonardo Prudente (sem partido, ex-DEM) à presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal está publicada no Diário Oficial da Casa desta quarta-feira (30). Os trabalhos da Câmara, suspensos pelo recesso, devem ser retomados no dia 11 de janeiro. Prudente é aquele que aparece em um vídeo colocando dinheiro dentro da meia.

A partir de agora, será dele a iniciativa de instalar a CPI que vai investigar as denúncias e também comandar a indicação dos membros da comissão que vai analisar os pedidos de impeachment do governador José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM). Arruda é acusado de comandar um suposto esquema de distribuição de propina a aliados do governo.

Prudente estava licenciado da presidência da Casa. Ele e outros nove deputados suspeitos de terem recebido propina são alvos de processos de perda de mandato. Até terça-feira (29), a Câmara Legislativa era presidida de forma interina pelo deputado Cabo Patrício (PT), que faz oposição ao governador Arruda. A deputada distrital Erika Kokay (PT-DF) disse que o partido vai questionar a decisão de Prudente. Segundo ela, o deputado só poderia retornar à presidênca com o aval da Mesa Diretora da Câmara.

No auge da crise do chamado “Mensalão do DEM em Brasília”, no dia 30 de novembro, Leonardo Prudente disse que usou o dinheiro que recebeu do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa como “ajuda financeira não contabilizada” para a campanha de 2006. Segundo o deputado, o dinheiro foi colocado nas meias e no terno por “uma questão de segurança”.

O escândalo que envolve o governador, parlamentares e empresários começou no dia 27 de novembro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Caixa de Pandora. No inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador Arruda é apontado como o comandante de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados. Repasses de dinheiro foram registrados em vídeos e entregues à PF por Durval Barbosa, que denunciou o esquema.

Partidos

Os partidos políticos que anunciaram a saída do governo por causa do escândalo, que veio à tona há mais de um mês, na prática, permanecem com cargos. O PPS foi um dos primeiros partidos a anunciar a saída do governo Arruda, por causa das denúncias. Mas nos bastidores, essa saída tem sido lenta ou, em alguns casos, de fachada.

Na Secretaria de Justiça, por exemplo, o ex-titular deputado Alírio Neto deixou no comando o primo: Flávio Lemos de Oliveira. Já no Procon, o presidente Ricardo Pires, que prometeu entregar o cargo em 15 dias, permanece na função há quase um mês.

Nas administrações regionais, a ordem da Executiva do PPS também não surtiu tanto efeito. Antônio Girotto continua administrador do Park Way. E Joel Alves, do Guará. Os dois pediram licença do partido. Essa é uma forma de burlar o estatuto e não serem expulsos. A direção da legenda diz que em fevereiro vai analisar esses casos.

No Partido Verde, que também deixou o governo, um caso semelhante. O presidente do Instituto Brasília Ambiental, Gustavo Souto Maior, disse que não vai deixar o cargo, nem o partido. A direção da legenda informou que não vai fazer nada, porque ele é considerado indicação técnica, além de ser recém-filiado e não fazer parte da Executiva do PV.

Outros quatro partidos estão fora do governo. Todos os filiados, nesse caso, entregaram os cargos. Mas, alguns, deixaram substitutos, que são braço direito do antigo titular. É o caso das Administrações de Brasília, Estrutural, Cidade do Automóvel, Jardim Botânico e Riacho Fundo II

Piso do professor poderá ficar abaixo do salário mínimo em 2010

Por Fábio Galvão

Cerca de 1,2 milhões de professores da educação básica de rede pública com jornada semanal de 20 horas receberão menos que um salário mínimo em janeiro de 2010, caso o Senado aprove o projeto do governo federal que muda o cálculo de reajuste do piso salarial nacional da categoria.

O projeto, já aprovado pela Câmara no último dia 16 de dezembro, determina o uso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para o reajuste em janeiro de cada ano, ao invés da correção com base no crescimento do valor mínimo por aluno estabelecido no Fundeb, como manda a lei do piso hoje.

Segundo cálculos do especialista em financiamento educacional e ex-presidente do Inep, Luiz Araújo, se o piso for reajustado pelo INPC, um professor com jornada de 20 horas semanais ganhará R$ 495,00 em janeiro, um aumento de 4,3%. Já o salário mínimo será elevado para R$ 510,00 em janeiro, um reajuste de quase 9%, de acordo com Projeto de Lei Orçamentária Anual, que deve ser aprovado esta semana pelo Congresso. Pela lei atual do piso, o percentual de correção deve ser de 18,2%, o que corresponderá a um piso de R$ 561,00 para uma jornada de 20 horas semanais.

Criada em julho de 2008, a lei do piso estabeleceu um valor de R$ 950,00 para uma jornada de 40 horas. De acordo com dados do Ministério da Educação, o Brasil tinha em 2007, 1,8 milhões de professores na educação básica na rede pública. Destes, 1,2 milhões trabalham em um turno de 20 horas semanas, 570 mil tem jornada de 40 horas e outros 112 mil trabalham em três turnos. "Como regra, o professor inicia a sua carreira na jornada de 20 horas, em muitas prefeituras só existe essa jornada, mas o valor do piso foi calculado na jornada de 40 horas e a lei manda fazer uma regra de três pra alcançar o valor de sua respectiva jornada", afirma Araujo, que é assessor do senador José Nery (PSOL-PA).

A Agência Câmara informa que o governo decidiu mudar a lei do piso para evitar um "aumento contínuo" dos gastos com pagamentos aos professores. Isso permitiria que o dinheiro do Fundeb fosse usado para outros investimentos, como construção de escolas, compra de material de ensino e universalização da informática. Ao usar o INPC, o governo federal pretende desvincular a correção do crescimento do número de matrículas e da própria elevação do número de profissionais que ganharão o piso da categoria.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) divulgou uma nota contra a aprovação "na surdina e em caráter urgentíssimo" do projeto de lei que "congela o valor real do piso". O sindicato nacional destaca que embora o projeto tramite na Casa desde 2008, "nenhuma articulação do governo e do parlamento havia sido tomada na perspectiva de aprovar a matéria neste fim de ano". A entidade reclama ser "inexplicável" que não tenha "sido chamada para debater o assunto".

A CNTE defende a permanência do índice com base no Fundeb "pelo menos por alguns anos, a fim de compensar a discrepância do valor original". Para a confederação, a proposta aprovada na Câmara "impõe forte restrição à valorização" do piso porque "prevê somente a recomposição da inflação, desconsiderando qualquer aumento real" e também porque "vincula a recomposição inflacionária a um dos menores índices de reajuste de preços do mercado".

A CNTE esclarece também que tem orientado os sindicatos a reformularem os planos de carreira da categoria sob orientação da lei do piso, que fixou o prazo até 31 de dezembro de 2009 para adequação dos planos.

Para o professor Luiz Araújo a "correção do piso salarial está perfeitamente normatizada" na lei, mas o problema surgiu após o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar a ação direta de inconstitucionalidade impetrada por alguns governadores contra a lei do piso. "O STF bagunçou o coreto", disse.

Segundo ele, o Supremo afirmou que a lei está em vigor, mas suspendeu alguns artigos e reinterpretou outros. "O STF disse que os efeitos da lei seriam apenas a partir de 2009, mas não disse claramente se o valor do piso deveria ter sido reajustado no dia 1° de janeiro de 2009, pois o seu valor era do inicio de 2008", afirma.

Na opinião de Araújo, a lei do piso deve ser cumprida enquanto se discute uma alternativa intermediária. "O valor inicial do piso é muito baixo, por isso reajustes acima da inflação aproximariam o piso de um patamar que valorizasse o magistério", afirma. Ele reconhece que o seu "valor impacta as finanças municipais e há uma grita geral de que reajustes muito acima da inflação tornam os planos de carreira impraticáveis".

Ele lembra que, pela lei do Fundeb, obrigatoriamente cada Estado ou Município deve aplicar no mínimo 60% dos recursos do fundo com pagamento de profissionais do magistério. Nesta conta entram o 13° salário, um terço de férias e os encargos com a previdência social. "Na maior parte dos Estados e Municípios este gasto é um pouco maior do que 60%", afirma.

Araújo defende como "solução apropriada" uma regra pela qual o índice de reajuste seria a inflação mais um fator de valorização. "A proposta de apenas corrigir pela inflação levará a piso em 20 horas abaixo do salário mínimo”, disse.

VEJA - INTERNACIONAL: Retrospectiva 2009

O ano em que Obama caiu na real

Ser um homem de inteligência superior submeter suas ideias ao teste supremo da realidade – e existe outro maior do que a Presidência dos Estados Unidos? – foi o espetáculo mais hipnotizante de 2009. O júri ainda vai ficar acompanhando o desempenho de Barack Obama por um bom tempo, mas já deu para ter uma visão da mistura de pragmatismo e idealismo que parece guiá-lo. Em geral, o pragmatismo funcionou melhor. A começar pelos dois eixos mais vitais, a economia e a defesa, em que Obama manteve praticamente as equipes e as políticas em vigor. A argumentação que fez sobre a inevitabilidade das "guerras necessárias", mesmo entre aqueles que como ele não têm ânimo beligerante, foi talvez o ponto alto, em termos intelectuais, de seu primeiro ano de governo. No campo do idealismo, brilhou no discurso do Cairo em que estendeu a mão ao mundo muçulmano e tentou, metaforicamente, quebrar a narrativa massacrante da vitimização. Não se deu tão bem ao sair pelo mundo pedindo desculpas por políticas americanas do passado recente (os públicos ou não acreditam na beleza moral da autocrítica ou a desprezam) e se curvar excessivamente diante de monarcas estrangeiros. E continua parecendo totalmente inexplicável que tenha mandado transferir para Nova York o julgamento do, digamos, diretor executivo dos atentados de 11 de setembro, Khalid Sheikh Mohammed. Depois de pragmáticas adaptações, deve conseguir a aprovação da reforma mais importante no plano interno, a do sistema de saúde – que, numa reação só possível nos Estados Unidos, causou mais desaprovação do que o contrário na opinião pública. Em política externa, apesar da imagem fenomenalmente positiva, teve resultado zero até agora. É duro o teste da realidade, mas Obama leva jeito para enfrentá-lo.

Os dólares furados

O governo baixa pacotes econômicos a toda hora, o presidente dá bronca em banqueiros porque não estão soltando financiamentos, o desemprego chega a 10% e a moeda anda fraquinha, fraquinha. Cidadãos comuns alarmam-se com a dívida pública, um mastodonte que bateu em 12 trilhões de dólares, e cidadãos incomuns começam a sair às ruas em protesto. O pior da crise já passou - aliás, tão depressa que os peixinhos vorazes que nadavam em volta do grande Moby Dick americano, loucos para fazer a dança de morte do capitalismo, nem tiveram tempo de aproveitar direito. Dá para acreditar que foi no ano da pouca graça de 2009 que o governo Obama assumiu a General Motors? Ou que o pagamento contratual de bônus a altos executivos das instituições financeiras resgatadas com dinheiro público provocou uma proposta de que todos fossem enforcados em praça pública com cordas de piano? Mas a insegurança econômica, e seus terceiro-mundistas acompanhamentos, ainda cala fundo na alma americana. "Os Estados Unidos estariam errados se dessem como garantido o lugar do dólar como reserva monetária predominante", avisou em setembro o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick - é, o mesmo chamado pelo presidente Lula de "sub do sub do sub" na época das negociações comerciais, e que continua adepto do estranho hábito de falar a verdade.

Pintura de guerra

Azadi, azadi, azadi. O rugido que subiu das ruas de Teerã veio em farsi, mas seu significado é o mesmo em todos os lugares do mundo onde existe um grito sufocado no peito: liberdade. A intensidade, a energia e a extraordinária coragem dos jovens manifestantes mostraram que existe vida independente no Irã. O elemento catalisador foi a candidatura presidencial de Mir Hossein Mousavi, um ex-primeiro-ministro que se transformou em ícone do reformismo. Sob a bandeira verde, a cor apropriadamente islâmica de sua campanha, as belas maquiaram-se para a guerra das ruas e empurraram o lenço da cabeça, de uso obrigatório, até limites antigravitacionais. A campanha e os protestos subsequentes, diante da reeleição fraudada do sinistro Mahmoud Ahmadinejad, expuseram várias camadas de descontentamento, desde os jovens que anseiam por uma vida mais normal até dissidências no interior dos quadros do regime. Ahmadinejad e sua turma não negaram o sangue: engrossaram, reprimiram e continuaram celeremente no caminho da produção secreta de bombas atômicas, o assunto que vai tumultuar o mundo em 2010. Mas agora a trilha sonora iraniana incorporou a palavra mágica. Liberdade, liberdade, liberdade.

Obama quer Osama

A foto do soldado americano de chinelão e cueca cor-de-rosa, arrancado do sono por causa de um ataque dos talibãs, mostrou um momento de especial fragilidade: por baixo da habitual carapaça de combate, existem garotos de 18, 19, 20 e poucos anos. Já o governo americano não foi pego de calças curtas no Afeganistão. Ao contrário. O general Stanley McChrystal, comandante de campo, foi tão explícito sobre os riscos envolvidos no país que levou até repreensão do presidente Barack Obama. Mas ficou o aviso de clareza cristalina: ou os Estados Unidos enviavam mais tropas para controlar a situação na região que ainda abriga Osama bin Laden e companhia ou a guerra ia para o brejo. Até o nada belicista Obama se convenceu de que não dava. Imaginem a desmoralização total que seria os talibãs desfilando vitoriosos com o barbudão terrorista montado num jipão. Depois de se debater em dúvidas durante três meses, Obama acabou com o climão de Elsinore na Casa Branca: já está aumentando em 30 000 o número de soldados. Automaticamente, também aumenta a própria responsabilidade. Agora, Obama tem de pegar Osama. Ou no mínimo neutralizar categoricamente seus aliados locais. Parada dura.

Uma siesta muito, muito longa

Tudo teve ares de pastelão, mas pelo menos uma coisa deve ser considerada: a potestade das forças que se ergueram contra Manuel Zelaya não foi brincadeira. O infeliz do chapelão foi destituído da Presidência de Honduras com ordem assinada pela Suprema Corte e sem nenhuma cerimônia por parte do Exército. No seu lugar ficou um sujeitinho bravo, Roberto Micheletti, que assumiu interinamente com um objetivo - no pasará - e o cumpriu. Ainda por cima, Zelaya contou com o apoio incondicional dos megalonanicos da diplomacia petista, sempre uma garantia de que a coisa vai dar errado. Por ordem de Hugo Chávez, voltou à sorrelfa e se instalou na Embaixada do Brasil com planos inversamente proporcionais à capacidade de executá-los. As simpatias dos que, mesmo desconfiando das patranhas da figura, repudiavam os métodos de sua deposição sofreram um cruel golpe quando ele disse que estava sendo torturado por mercenários israelenses com emissões de alta frequência e gases tóxicos. Folhas de papel-alumínio passaram a recobrir as paredes da embaixada, dando a impressão de que a qualquer momento sairiam dali miolos ao forno. Zelaya não foi o único a passar atestado de maluquice: o governo brasileiro repudiou até o fim a realização de eleições presidenciais e, depois, seu resultado. Em outras circunstâncias, o mau conselheiro Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso Amorim ensaiaram dar uma de good cop e bad cop, aquela jogadinha de policial mau e policial bonzinho. Da história de Honduras, saíram parecendo os Keystone Cops.

Salto em crescimento

As jovens recepcionistas chinesas são escolhidas por critérios universais: beleza, altura e sorriso - quanto mais bonitas, mais importantes são os figurões a quem servem chá. Na foto, elas pularam para demonstrar disposição amável durante um evento legislativo na China. Todo mundo deveria pular junto: o crescimento econômico de 8% segurou praticamente metade do planeta à tona ou um pouquinho acima, o Brasil inclusive. Dos países que contam, nenhum atravessou a crise com tanto ímpeto. Os feitos portentosos e as construções espetaculares deram um tempo, inclusive por fadiga de atenção do resto do mundo depois da Olimpíada de 2008. Mas em 2010 a China reocupará o palco com a Exposição Mundial de Xangai. Entre as extravagâncias arquitetônicas, o pavilhão de Macau será em formato de coelho futurista. E as coelhinhas então...
Pecado original

Militantes muçulmanos podem matar muçulmanos inocentes? A pergunta soa absurda, mas é objeto de intenso debate no mundo islâmico. Ainda mais com o recrudescimento, a partir do segundo semestre de 2009, dos ataques com carros-bomba nas três grandes frentes de atuação dos fundamentalistas armados – Iraque, Afeganistão e Paquistão –, com horríveis carnificinas entre a população civil. Os jihadistas, ou partidários da guerra santa, acham que a luta pela imposição de um regime islamicamente puro justifica que inocentes sejam feitos em pedacinhos. No pós-morte, Alá separa os justos dos culpados e compensa o sacrifício dos primeiros. No Paquistão, os atentados se multiplicaram a partir de agosto, em resposta a uma operação militar contra áreas dominadas pelos militantes fundamentalistas. Mais de 500 pessoas morreram explodidas por carros-bomba desde então. O menino morto, na chocante foto ao lado, foi vítima do ataque contra um mercado cheio de mulheres e crianças em Peshawar. O governo paquistanês conseguiu do alto clero uma fatwa dizendo que os atentados terroristas são haram, o equivalente a pecaminosos, e os líderes religiosos que os insuflam incorrem na mesma categoria. Um avanço no campo moral que terá, infelizmente, resultado nulo no campo prático.

Chanchada à italiana

O paradoxo italiano salta aos olhos: o país vai bem, mas seu chefe de governo está tão mal que começou o ano gritando na frente da rainha Elizabeth para chamar a atenção de Barack Obama e terminou levando na cara uma miniatura da Catedral de Milão. Entre uma coisa e outra, uma erupção vesuviana de mulheres de boa figura e má reputação, um processo de divórcio anunciado pela esposa ofendida no principal jornal da oposição e uma decisão da Suprema Corte que o priva da imunidade do cargo. Para tudo Silvio Berlusconi deu a explicação clássica dos políticos erráticos ("intriga da oposição"). Tudo, sobretudo as cenas das festinhas de arromba na casa de praia, teve um ar de pornochanchada dos anos 70. O que não pode, evidentemente, ser debitado na sua conta é o ataque de Milão. Mas é quase impossível resistir aos paralelos entre o estilo kitsch do milionário populista e o objeto usado, uma lembrancinha de turista de arrepiar até cabelos implantados.

Ressaca geral

Recessão, deflação e desanimação parecem conceitos difíceis de engolir num país com o espantoso nível de desenvolvimento do Japão. Mas nem um ofurô gigante de vinho, como na foto, seria capaz de revigorar os ânimos nacionais. A segunda potência do mundo tornou-se em 2009 um pouco mais a potência de segunda que a ascensão da China e a economia enfaixada já estavam prevendo antes mesmo da devastação trazida pela crise. Não que tenha mudado o estilo de vida de país rico, pós-industrialíssimo (embora ainda tenha indústria) e, nos casos mais limítrofes, já transposto em tempo quase integral para a realidade virtual. Um estudo feito no fim do ano sobre as expressões que mais definiram 2009 no Japão incluiu o seguinte: "homens herbívoros", ou soshoku danshi, sobre o tipo masculino meigo e algo assexuado que surgiu recentemente; "fast fashion", a modinha barata e descolada que salvou a pátria das grifes na hora da recessão; e "mudança de governo", propiciada pela eleição do primeiro-ministro Yukio Hatoyama. O sopro de renovação trazido por uma cara nova na política ficou mais na esperança. A coisa mais vibrante que aconteceu no Japão sob nova direção foi a mulher do primeiro-ministro, Miyuki Hatoyama, que diz ter sido abduzida por um óvni, aparentemente confirmando a crença de que, na fase atual, os japoneses são de Vênus.

Menos foi mais

Numa era de populistas exibidos, Angela Merkel é um alívio. Não joga para a plateia, não conta piadas, não se considera uma enviada dos céus. É de direita, mas com flexibilidade suficiente para ver a necessidade de dar umas estimuladas na hora do aperto e, depois, voltar às apertadas no déficit. Não fala uma palavra que não seja criteriosamente pensada – e, portanto, não diz besteiras. Suporta-as com estoicismo, como já se comprovou com Silvio Berlusconi falando ao celular, Nicolas Sarkozy tendo surto napoleônico e Lula elogiando o programa nuclear do Irã, tudo sob seus pouco complacentes olhinhos azuis. A maior mudança de imagem que fez para enfrentar a campanha eleitoral deste ano, no meio da crise, foi levantar o penteado uns 2 centímetros. Filha de pastor luterano, criada na antiga Alemanha Oriental e formada em física, ela gosta de tudo em perfeita ordem, disciplina e discrição. Sem nenhuma surpresa, os alemães também gostam do estilo minimalista. "Algumas pessoas disseram que ela era tediosa e provinciana. Mas os eleitores não são burros, não querem uma Britney Spears como chefe do governo", disse o diretor de um instituto político, Detmar Doering, a propósito da reeleição dela, em setembro. "Querem uma pessoa séria, em quem possam confiar." Bingo.

Surto de medo – e máscaras

O nome oficial é influenza A (H1N1), mas no popular o que pegou mesmo foi gripe suína. As sucessivas ondas de medo demonstraram que o mundo está sempre esperando o pior. Talvez sob influência das previsões apocalípticas e dos filmes-catástrofe, a ideia de que sobrevirá a mãe de todas as epidemias foi abraçada até com excessiva credulidade. A gripe que fez todo mundo usar máscara hospitalar, ou pensar em fazê-lo (na foto, estudantes japoneses em visita ao Parlamento), foi menos mortífera do que o antecipado. Apesar da propagação global, provocou cerca de 10 000 mortes, das quais cerca de 1 600 no Brasil. Mas assustou tanto pelo potencial letal quanto pela faixa atingida. Quando a gripe comum mata, 80% das vítimas são pessoas acima dos 60 anos, em geral debilitadas por outras doenças. Na suína, a proporção é inversa. A reação mais insensata à pandemia aconteceu no Egito, onde o governo mandou matar todos os porcos. Além da conexão errada entre os animais e a gripe – uma vez disseminado entre humanos, o vírus tem autonomia –, pesou o fator religioso: o islamismo proíbe os porcos por considerá-los impuros. No Egito, eram criados com restos de comida e consumidos pelos coptas, adeptos de uma igreja que remonta aos primórdios do cristianismo. Sem eles, o lixo orgânico aumentou ainda mais, e as cidades egípcias ficaram naquela situação na qual o presidente Lula disse que o povo brasileiro vive. Em suma, uma porcaria.

Eterno enquanto dure

Hugo Chávez começou o ano cumprindo o que havia prometido. Tanto fez, manipulou, distorceu e ameaçou que conseguiu reverter o resultado do plebiscito de 2007. Em fevereiro, ganhou a possibilidade de reeleições até o fim dos tempos. O populismo autoritário e caudilhesco que comanda fincou mais fundo suas raízes malignas. O sistema de ensino está sob novo e perverso estatuto, as poucas vozes independentes que restam sofrem intimidações crescentes, comitês armados defendem a ideologia oficial. Chávez passou o ano ameaçando ir à guerra contra a Colômbia. Fez um acordo de armamentos com a Rússia, mas comandou uma grita contra o uso de bases colombianas por forças americanas para combater os traficantes de cocaína. Entre uma ameaça presente e imediata como o narcotráfico e um futuro e hipotético uso indevido das bases, adivinhem de que lado os seus dúcteis aliados ficaram...

O homem do efeito velcro

Há políticos que, famosamente, parecem revestidos de teflon: tudo de ruim que se joga neles não gruda. Já Gordon Brown exigiu a criação do conceito de político velcro. O homem atravessou 2009 atraindo tanta encrenca que bateu o impressionante recorde de 74% de desaprovação. A súbita era glacial da economia (encolhimento de 5,9%) já seria suficiente para destruir a reputação de qualquer um, mas o primeiro-ministro britânico caprichou. No seu turno, eclodiu o escândalo das despesas indevidas penduradas por políticos nas contas públicas, um assessor apareceu mandando mensagens com intrigas sexuais sobre desafetos, o aumento de mortes de militares britânicos no Afeganistão foi atribuído a deficiências de material. Em visita de Brown a mutilados de guerra, vários fecharam a cortininha em volta da cama para não ver a cara dele. Em carta à mãe de um jovem soldado morto em combate, ele conseguiu a proeza de errar a grafia de 25 palavras, incluindo o nome do falecido. Quis fazer graça num discurso no Parlamento, mas se atrapalhou e confundiu as atrizes Renée Zellweger e Reese Witherspoon. A empatia despertada pelo jeito desalinhado e pelas tragédias pessoais (é cego de um olho, perdeu uma filhinha prematura) secou completamente. Em 2010, antecipa-se que o efeito velcro produzirá uma derrota de proporções históricas para o Partido Trabalhista.
Planeta bizarro

Bill Clinton desceu na Coreia do Norte e pediu: levem-me a seu líder, e assim encontrou Kim Jong-Il, o chefe dos ETs. Piada, claro. Na verdade, aconteceu o contrário. Foi Kim Jong-Il quem exigiu que Clinton fosse levado a sua presença em troca da libertação de duas repórteres americanas, Euna Lee e Laura Ling. Por ingenuidade ou excesso de confiança, em março elas entraram em território norte-coreano via China, foram presas e viraram troféu. Pelos padrões da Coreia do Norte, foram bem tratadas. Comiam até arroz, um luxo para a esfomeada população comum. Kim Jong-Il manipulou seu trunfo direitinho. Deixou que as jornalistas falassem por telefone com as famílias e "fez saber" que uma visita importante como a do ex-presidente seria o preço a pagar pela liberdade delas. Um preço, aliás, pequeno e sem nenhuma consequência. Fora a foto mostrando um constrangido Clinton e um emagrecido Kim (um derrame em 2008, boatos de câncer de pâncreas neste ano), a Coreia do Norte continuou exatamente onde sempre esteve, isolada por vontade própria e por força de seu condenável programa nuclear. Ameaças ou promessas de ajuda, mão estendida ou punho fechado, nada do que já foi tentado para demover o mais fechado regime do planeta funcionou. E o alienígena continuava no poder.

Caça aos alvos

De todas as coisas estranhas que aconteceram no mundo em 2009, poucas se comparam às notícias recorrentes sobre uma prática macabra: a caça a albinos de países africanos com fins mágicos. Nem precisa dizer de que tipo de magia. A Tanzânia é o pior lugar para nascer com essa anomalia genética, na qual a ausência de pigmentos no organismo produz pele e cabelos alvíssimos e olhos desbotados. Números sobre um assunto desses são, é claro, altamente não confiáveis – mas falou-se em sessenta vítimas neste ano. Em setembro, três "caçadores" de albinos receberam pena de morte, por enforcamento. Embora os "filhos da lua" sempre tenham causado estranheza e superstição, a crença no poder de feitiços feitos com partes de seus corpos não tem nada de milenar. Apareceu do nada e se propagou com rapidez pelo interior da Tanzânia e países vizinhos. Membros, orelhas, língua, genitais e cabelos são moídos e incorporados a feitiços para fazer a terra produzir boas colheitas ou as redes pegar mais peixes. Há pelo menos uma história hedionda de mãe que viu a filha de 17 anos ser mutilada por homens armados com facões, que cortaram as pernas da adolescente. Já existe até uma espécie de rede secreta de refúgios para os que não podem viver à luz do sol, em nenhum sentido.

Está frio ou quente?

Quente, definitivamente. Pelo menos em termos de discussão das mudanças climáticas. Em alguns casos, até fervendo: a ideologização do assunto provocou extremismos inúteis a ponto de os absolutistas da influência humana no aumento da temperatura global (ou aquecimentonistas) terem transformado a questão em artigo de fé e os céticos (ou brucutus direitistas que querem incinerar o planeta) usarem qualquer nevasca como prova de que o clima está até mais fresquinho. A ciência climática é complexa: a geleira, como a da foto na Groenlândia, que parece derreter uma hora, em outra retorna ao estado glacial; em vez de subir, em alguns lugares o nível do mar parece baixar; tempestades, secas e até tornados, que de repente se tornaram recorrentes no sul do Brasil, são tão impressionantes quanto desconectados das mudanças globais. Mas no fundo, no fundo, todos sabemos que a devastação ambiental que a espécie humana provoca não ficará sem consequências. E nenhuma solução mágica baixará dos céus no último instante. Só nós podemos nos salvar.

VEJA - BRASIL: RETROSPECTIVA 2009

Balançou, mas não caiu
‘‘Rio de Janeirrô!" Foi de estremecer o Cristo Redentor a festa que explodiu na cidade ao anúncio feito em Copenhague pelo belga Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional. Depois de sete candidaturas frustradas, o Brasil foi finalmente escolhido para sediar uma Olimpíada, a de 2016, primeira a se realizar em solo sul-americano. Mais do que um tremendo afago na autoestima nacional, o evento será uma chance para o Rio dar uma virada histórica. As chagas abertas pelo desgoverno e abandono a que a cidade esteve entregue nas últimas décadas podem não se fechar de uma vez, mas a largada na direção da reedificação da capital estará dada. Para receber 15 000 atletas e mais de 1 milhão de turistas, estado e iniciativa privada investirão lá 23 bilhões de reais em infraestrutura até 2016, dinheiro que, espera-se, será usado para oxigenar o sistema de transportes, despoluir a Baía de Guanabara, revitalizar a zona portuária, modernizar os aeroportos e fazer com que, daqui a 2 400 dias, quando os olhos do mundo estiverem voltados para o Rio, ele esteja mais lindo do que nunca. Será um trabalho de proporções épicas, mas que promete recompensa proporcional – e duradoura. Foi por causa dos esforços com vistas a uma Olimpíada, a de 1992, que a cidade espanhola de Barcelona disse adeus à degradação e à decadência para se tornar um dos destinos turísticos mais charmosos e concorridos da Europa. É isso que se deseja para o Rio: que o legado civilizatório dos Jogos contribua para que ele volte a ser o que já foi no passado: uma cidade cuja beleza mesmerizante é capaz de esgotar o repertório de superlativos de quem a vê e cujos moradores têm motivos para sentir orgulho do seu passado, satisfação com o seu presente e otimismo em relação ao futuro.
Balançou, mas não caiu
Foram três meses de denúncias sucessivas, uma mais cabeluda do que a outra, mas nada conseguiu fazer José Sarney desgrudar da cadeira. Auxiliado pela proverbial incapacidade dos políticos de enrubescer, e pelo braço amigo do PT, o presidente do Senado aferrolhou-se ao cargo a despeito dos seguintes episódios: a divulgação da existência de centenas de atos secretos no Senado; a descoberta de que esses atos incluíam a nomeação de quatro parentes seus; a revelação, feita por VEJA, de que ele mantinha uma conta secreta no exterior; a notícia de que havia recebido auxílio-moradia mesmo tendo casa em Brasília (que, aliás, não constava da sua declaração de bens); e a denúncia de que a Fundação José Sarney havia desviado dinheiro de um convênio com a Petrobras. Tamanha quantidade de descalabros teve final feliz só para os envolvidos: Sarney considerou as denúncias uma "falta de respeito" para com ele, no que foi prontamente apoiado pelo presidente Lula ("O Sarney não pode ser tratado como se fosse uma pessoa comum"). Ato contínuo, todas as denúncias foram arquivadas no Conselho de Ética do Senado e, embora parte delas esteja sendo investigada pela polícia, nenhuma até hoje deu em nada. O cacique balançou, balançou, mas não caiu.
A criação de Dilma
Foi um ano de duras batalhas para a ex-guerrilheira Dilma Rousseff. A maior de todas, um câncer no sistema linfático, foi enfrentada com dignidade e vencida com bravura. Em setembro, depois de cinco meses de tratamento, a ministra veio a público anunciar que estava curada. Menos definitivo foi o resultado de seu embate com a ex-secretária da Receita Lina Vieira em torno de um encontro de desdobramentos suspeitos cuja existência ela nega e a ex-secretária reitera. Palavra contra palavra, ficou por isso mesmo, e Dilma encerrou 2009 inteira e sacudindo a poeira. Como o Adão de Michelangelo, sua candidatura à Presidência veio do nada e materializou-se por obra e graça de um dedo (que, nesse caso, não era divino, mas quase). A natureza do processo suscitou a dúvida: a mágica do criador incluiria a capacidade de transferir votos para a criatura? Dois anos e muitas viagens, inaugurações e palanques conjuntos depois, Dilma patina nas pesquisas. Assim, a dúvida que atormenta os petistas passou a ser outra: com a tonitruante popularidade presidencial, a ministra – praticamente uma reencarnação de Lula, segundo a propaganda do PT – não deveria estar em situação bem mais confortável? Dilma já se mostrou boa de batalhas. 2010 será o ano da guerra.
Mais vale um tucano à mão...

Risinho aqui, alfinetadinha acolá e muito jogo de cena depois, sobrou só um tucano para alçar o voo mais alto. Aécio Neves, que começou o ano arrastando caminhões de apoio às suas pretensões de candidato à Presidência da República, foi, devagarinho, colocando o nome em cima do telhado. Primeiro pressionou pelas prévias até outubro, depois aceitou postergar a data e mais tarde desistiu da consulta. Por fim, anunciou a retirada da pré-candidatura, deixando o caminho livre para Serra, hoje o mais que virtual candidato do PSDB. A pergunta que agora ecoa nas hostes tucanas é: aceitará Aécio ser vice de Serra, carregando consigo um dos mais altos índices de aprovação registrados por um governador e uma miríade de votos do segundo maior colégio eleitoral do país? Para convencer o colega de Minas Gerais a formar o que analistas consideram ser a chapa de oposição imbatível, o governador de São Paulo terá de gastar mais do que o seu latim – terá de oferecer um caminho para Aécio ganhar musculatura nacional e, assim, viabilizar-se para se candidatar finalmente à Presidência. De preferência, em 2014...

Gigante em chamas

O clarão que iluminou a noite carioca lembrou o de um vulcão em erupção. Dando sequência ao que já se transformou em uma triste tradição, um novo incêndio destruiu em setembro 5 hectares de mata na Pedra da Gávea, um dos mais bonitos cartões-postais do Rio, visto do chão, e um dos mais deslumbrantes mirantes da cidade, para quem se aventurar a escalar os seus quase 850 metros de altura – o maior monolito à beira-mar do mundo. Em 2006, um incêndio na face oeste da pedra já havia devastado 5 hectares de mata. Em 2007, a destruição foi maior: 6 hectares viraram fumaça. Nas três vezes, a causa provável foi o descuido de visitantes aliado à falta de fiscalização do local. As vítimas também são sempre as mesmas: orquídeas, bromélias e outras espécies endêmicas da Mata Atlântica em extinção.

Viés de mudança

Henrique Meirelles, o mais longevo presidente do Banco Central, não esconde de ninguém o desejo de retomar a carreira política – e a vontade ardente de fazê-lo ainda em 2010. Em outubro, o ex-deputado tucano filiou-se ao PMDB, deixando no ar a impressão de que já estava tudo combinado com o chefe. Lula vê com bons olhos que o presidente do BC ocupe na chapa de Dilma Rousseff o lugar de candidato a vice até o momento reservado ao PMDB. Mas competir com lobos grandes e raposas velhas não é tarefa fácil, e, por enquanto, Meirelles está na moita. Ao admitir, em outubro, que poderia ser "candidato a qualquer coisa", o guardião da moeda despertou compreensíveis temores de que, nessa condição, pudesse permitir que lhe amolecessem o até então impassível coração. Mas, durão, ele continuou fazendo careta para a inflação.

Bem-vindo, terrorista!

Certamente não foi por acaso que o terrorista italiano Cesare Battisti escolheu o Brasil para morar. Mas nem nas suas mais delirantes fantasias ele poderia imaginar que receberia aqui tão calorosa acolhida. O Brasil tem sido uma mãe para Battisti (na foto, em alegre convescote com um grupo de parlamentares do PT, PCdoB e PSOL). Afinal, que outro país dedicaria paparicos de popstar a um criminoso condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos? Em que outro país o ministro da Justiça, ignorando o parecer de um órgão técnico favorável à sua extradição, concederia a ele status de "refugiado político"? E, por fim, que país continuaria considerando a possibilidade de oferecer-lhe abrigo mesmo depois de a mais alta corte de Justiça concluir ser o italiano um criminoso comum? Graças a essa sucessão de bondades, está nas mãos do presidente Lula decidir onde o terrorista Battisti passará 2010, se pagando por seus crimes na Itália ou espreguiçando-se sob o sol do Brasil.

Verdade submersa

Seis meses depois da queda do voo 447 da Air France, as respostas para as causas da tragédia que matou 228 pessoas, incluindo 58 brasileiros, permanecem no fundo do mar. O segundo relatório da agência francesa de investigação e análise de acidentes frustrou quem esperava explicações para os eventos que levaram o Airbus 330 a cair no Oceano Atlântico quatro horas depois de decolar do Rio em direção a Paris, partindo-se em centenas de pedaços sem deixar sobreviventes. Além de recomendar a mudança dos métodos de avaliação do funcionamento dos sensores de velocidade do Airbus (os "pitots", que entraram para o vocabulário nacional desde o acidente), o documento nada esclareceu. Por que a aeronave mergulhou no inferno de um aglomerado de cúmulos-nimbos, as terríveis nuvens carregadas de eletricidade e cortadas por ventos de até 200 quilômetros por hora? Como se deu a pane elétrica que fez os pilotos perder o comando do aparelho? O que provocou a avaria na fuselagem que antecedeu a queda do AF-447? E, mais importante que tudo: como evitar que isso se repita? Pressionada pela associação de familiares das vítimas brasileiras do acidente, a agência francesa de investigação decidiu retomar em fevereiro as buscas pelas caixas-pretas do Airbus – a esta altura, a única esperança que resta de decifrar a tragédia.

A meia é a nova cueca

Foi patrocinada pelo DEM e protagonizada por um de seus parlamentares a mais explícita cena de cafajestice política já vista no Brasil desde que as denúncias de malfeitorias perpetradas pela categoria passaram a vir com áudio e vídeo. Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente provou que um sobrenome pode ser também um oximoro. Flagrado estufando com dinheiro não contabilizado (como os mensaleiros do PT convencionaram chamar a propina) os bolsos do paletó e da calça, quando mais buracos não achou, socou o restante dentro da meia, entrando assim para a infame galeria inaugurada pelo "homem do dólar na cueca", seu antepassado petista. Numa comparação com o mensalão do PT, o do DEM primou por duas diferenças: a celeridade com que o partido resolveu expulsar os envolvidos, incluindo o governador do DF, José Roberto Arruda (doravante conhecido como "o homem do dinheiro que era para comprar panetone"), que caiu fora antes de ser defenestrado, e a indignada reação de membros do governo diante de cenas tão "estarrecedoras" e episódio tão "deplorável" – adjetivos jamais pronunciados quando o escândalo era no quintal petista. Mensalão nos olhos dos outros...

E fizeram-se as trevas inexplicáveis...

Em 10 de novembro, o maior apagão da história do país deixou à luz de velas dezoito estados e 88 milhões de pessoas (ao lado, a cidade de São Paulo às escuras). Mais de um mês depois, 193 milhões de brasileiros continuam na escuridão, já que as causas do blecaute permanecem um mistério insondável. Falou-se em raios, em falha estrutural do sistema e, mais recentemente, em comprometimento no funcionamento de certas peças que deveriam proteger os feixes condutores de eletricidade. Ao fim e ao cabo, a única coisa que ficou clara, com o perdão do trocadilho, foi que o sistema elétrico brasileiro padece de um desequilíbrio sério que, a cada seis anos, em média, faz o país mergulhar na mais medieval das escuridões. Alguém disse seis anos, em média? Bem, levando-se em conta a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, talvez seja uma boa ideia as autoridades brasileiras começarem a se preocupar, se quiserem evitar um vexame agora de repercussão global.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Brasil inicia 2010 com o pé no acelerador, afirmam economistas

Perspectiva é de crescimento acima de 5% para o país
no ano que vem. Expectativa de pressão inflacionária,
porém, deve fazer o juro básico subir.
O Brasil começa o ano de 2010 de maneira bem mais otimista do que em 2009, quando a economia mundial era fortemente afetada pela crise financeira. As perspectivas mínimas de crescimento são de 5%, segundo economistas, e os números já mostram que o país começará o ano novo com o pé no acelerador.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, prevê crescimento de 5,5% para o país em 2010. Qualquer que seja o número, ele deverá ser bem superior à expansão da economia mundial, que deverá situar-se em 3,1%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Segundo Mantega, há analistas que estimam uma taxa de expansão dos investimentos da ordem de 20% em 2010. A previsão é do aporte de pelo menos US$ 200 bilhões de investimentos nos próximos anos. Neste cálculo, ele considera os investimentos do programa habitacional "Minha Casa Minha Vida", do trem de grande velocidade, da Copa e das Olimpíadas, além dos aportes em logística e infraestrutura. "Investimentos é o que não faltam", disse.
Os reflexos, conforme os especialistas, deverão ser sentidos positivamente nos indicadores de emprego, renda e crédito.

Entretanto, o ânimo econômico deve manter o dólar em um patamar baixo, na casa de R$ 1,70, o que prejudica as empresas que vendem para o mercado externo e estimula as importações. Desta forma, o saldo comercial brasileiro tende a cair.

A CNI prevê que o superávit da balança comercial caia de US$ 25 bilhões, em 2009, para US$ 13 bilhões, em 2010. Já o mercado financeiro estima um superávit comercial de US$ 12 bilhões para o ano que vem. Para o Banco Central (BC), o saldo cairá para US$ 15 bilhões.

Longo prazo

Para o economista Miguel Daoud, o ponto central da discussão não é apenas o ano de 2010, mas a capacidade do país de sustentar a expansão no longo prazo. O economista diz que o PIB brasileiro pode crescer até 6% no ano que vem, mas os resultados posteriores tendem a ser afetados pelo nível de investimento ainda baixo e pelos gastos excessivos do governo.
"Temos que pensar na qualidade deste crescimento. Crescer 5% em 2010 é factível, não vejo problemas [em atingir esse patamar em 2010]. Mas a questão é o que isso significa, uma vez que a base de comparação [com 2009] é muito deprimida", explica Daoud.

Para o economista Alex Agostini, da consultoria Austin Rating, que prevê crescimento de 5,3% para o Brasil em 2010, à medida que o consumo se aquecer, a tendência é que as pressões inflacionárias voltem. Assim, o Banco Central será obrigado, já em meados do ano que vem, a aumentar a taxa básica de juros da economia, a Selic.

De acordo com o último relatório Focus de 2009, que reúne projeções do mercado financeiro para a economia, a Selic deve saltar dos atuais 8,75% para 10,75% até o fim de 2010. "O problema é a pressão inflacionária para 2011. O BC deve se antecipar a ela. Um problema dos países emergentes é esse 'stop and go' [para e continua]. Não temos condições suficientes para sustentar o crescimento no longo prazo", diz Agostini.
O economista diz que um aspecto positivo em 2010 será a retomada dos investimentos, uma vez que a capacidade ociosa da indústria está em queda. De acordo com a CNI, 61,8% das indústrias pretendem comprar mais máquinas e equipamentos. O valor médio de investimento da indústria de transformação deverá crescer de R$ 3,5 milhões, em 2009, para R$ 4,3 milhões, em 2010.

Emprego e renda

Com a economia aquecida, autoridades dizem que a geração de empregos será forte no ano que vem. De acordo com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o ano de 2010 deverá ser o melhor da história na geração de empregos formais.

Segundo ele, pelo menos 2 milhões de empregos com carteira assinada serão criados. "O setor de serviços vai puxar, com construção civil muito forte e comércio acompanhando. Temos a Copa de 2014 e vamos ter FGTS para a infraestrutura", acrescentou.

O governo vai aumentar o salário mínimo, atualmente em R$ 465, para R$ 510, a partir de janeiro. Isso deve ter um efeito positivo no poder de compra das famílias de baixa renda, cujos rendimentos são reajustados pelo piso.

O setor de serviços vai puxar, com construção civil muito forte e comércio acompanhando. Temos a Copa de 2014 e vamos ter FGTS para a infraestrutura

Contas públicas

O setor público deverá registrar, em 2010, um rombo de US$ 40 bilhões nas contas externas, o maior desde 1947. Além da redução do saldo da balança comercial, pesará sobre o resultado o maior volume de remessas de lucros para o exterior. Segundo o BC, porém, a alta dos investimentos estrangeiros em 2010 deve financiar esse “rombo”.

O especialista em contas públicas, Amir Khair, diz que as receitas do setor público (governo, estados e municípios) voltarão a crescer em 2010. Segundo o economista, a carga tributária deverá crescer cerca de 1,5 ponto percentual em 2010 com a retomada da atividade econômica. “Também vão crescer as despesas. Quando cresce a arrecadação, também sobem as despesas”, disse.

Além disso, Khair estima que o superávit primário (recursos apartados para o pagamento de juros da dívida pública) deve voltar a subir em 2010, ficando próximo de 3,3% do PIB – em linha com a meta do governo para este ano.